Coisa rara hoje em dia é conhecer quem pregue com tamanha paixão sobre a Verdade. Lembro-me bem do meu espanto quando ouvi pela primeira vez Ariadna de Oliveira falar sobre a compaixão pelos perdidos. Havia algo diferente em seu discurso, era um pouco da essência dEle ali… Aquilo foi divinamente cativante para mim…
Ao ler seus artigos e como a presença dAquele que É vibrava em suas linhas, admirei ainda mais a missão dessa autora. Tive a vontade e a oportunidade de me aprofundar em seus escritos através do seu livro “DE VOLTA PRA CASA – Uma fascinante viagem para o seu destino em Deus” e conhecer em palavras a identidade peregrina (como ela mesma se reconhece) da Ariadna.
Li frases apaixonantes, cortantes e altamente contagiantes por suas páginas. Percebi alguém profundamente envolvida com a causa de Cristo. Entre estações e poesias, com grau máximo de sensibilidade, a autora nos conduz à jornada de Jesus e às lições aprendidas em sua trajetória: de Betânia à aurora de sua ressurreição. Abraçada e rendida à cruz, ela se mostra conhecedora do sofrer. Apesar disso, revela que a dor é necessária e elemento inevitável no roteiro da vida que é escrita pelo Mestre.
Só recentemente tive a ocasião de compilar meus tantos grifos pelas páginas do livro e transformá-los em perguntas. O meio virtual fez seu papel de facilitar nosso contato, e agora publico a entrevista na esperança de que você seja preenchido como eu fui pelas palavras de uma serva dEle.
GrupoNews: Antes de iniciar, gostaria que me contasse um pouco a respeito de você. Quem é a Ariadna e como se deu sua conversão a Jesus?
Ariadna: Meu nome é Ariadna, sou casada com Paulo há 23 anos. Somos pais de dois maravilhosos filhos: Vitor Guilherme, 19 anos, e Julia Caroline, 13. Meu momento de apaixonar-me rendidamente por Cristo deu-se aos 17 anos. Eu já conhecia o Evangelho e fui ensinada em princípios e caráter por meus pais, mas faltava-me a experiência com o Cristo Salvador. Fui convidada a participar de um acampamento de jovens da igreja que pastoreamos hoje, sentia-me atraída e amedrontada com a possibilidade de uma “conversão”, um paradoxo que acabou empurrando-me para uma decisão.
Numa das noites do acampamento, um grupo de teatro apresentaria uma peça chamada LIBERDADE. Cheguei um tempo antes que o movimento começasse e fui tomada de um choro profundo. Eu não sabia, mas era a grande agonia por minha própria miséria. As pessoas foram chegando devagar, e o culto iniciou-se. Meu choro avançava, sentia minha alma dilatando-se em direção a Cristo, e durante a peça tive a minha primeira experiência de ouvir a Sua voz: “Ariadna, se você me permitir, entrarei e mudarei a sua história!”
Antes que qualquer tipo de convite pudesse ser feito, me vi de joelhos ante Aquele que se tornaria o GRANDE AMOR DA MINHA VIDA. O nosso romance começou 25 anos atrás…
Como foi escrever o livro “De volta pra casa”?
Eu nunca tive a pretensão de escrever um livro. Como leitora voraz (e crítica), sentia-me incapaz de acrescentar algo à literatura cristã de nossa época. Experimentei algumas vezes, após repartir a Palavra com um grupo, o incentivo para escrever o que havia compartilhado de forma que o alcance se tornasse maior e eficaz. Duas pessoas foram pontuais em minha decisão para a escrita: Gérson Lima (Editora dos Clássicos), um incentivador no processo, que me deu uma palavra sobre o fato de NÃO TERMOS O DIREITO DE RETER OU ADMINISTRAR aquilo que nos foi confiado por Deus, e que, sendo assim, eu deveria pensar com seriedade em escrever. Outra pessoa foi o nosso amigo Harold Walker, que não somente me ajudou no processo editorial, como insistiu e cobrou a minha escrita. A ideia central do DE VOLTA PRA CASA foi compartilhar um pouco da nossa jornada relacional e vocacional, exaltando a Palavra e mesclando aos escritos um pouco de poesia, crônicas, histórias atuais e passadas que pudessem encorajar o leitor em sua peregrinação.
Logo no início do livro, você dedica uma mensagem ao seu pai. Que papel ele teve na sua conversão?
Meu pai é de uma veia intelectual muito apurada, e mesmo sendo essa pessoa, conseguiu conciliar tais aspectos com uma espiritualidade de busca. Foi ele que, aos meus 10/11 anos, apresentou-me uma igreja em nossa cidade onde o ESPÍRITO SANTO ERA EXALTADO (“coincidentemente”, a mesma igreja onde eu iria me converter anos mais tarde e da qual somos pastores atualmente).
Sempre foi um desejo pessoal dele que eu me aventurasse na escrita, e a dedicatória desse trabalho literário traz dois aspectos muito fortes ao meu coração: o primeiro está relacionado ao fato de que certamente há uma explosão de alegria em seu coração paterno pelo término do livro, e o segundo deve-se ao fato de que há 4 anos ele sofreu um AVC de consequências terríveis que o tornaram um paciente acamado, sem expressões ou consciência normal, mas que resiste bravamente, ensinando-nos muito sobre Cristo até em seu completo silêncio. Não consigo enxergar nenhuma outra pessoa que merecesse a dedicatória desse trabalho.
Você possui uma linguagem bastante particular, o que evidencia muito sua sensibilidade, como, por exemplo, na frase “arrancadas de esquinas cruéis e inseridas no autor da vida”. Acho fascinante… Como começou sua história com a “escrita”?
Como citei anteriormente, fui muito exercitada por meu pai nesse processo de leitura e escrita. Creio que toquei num legado no que diz respeito à paixão por essa forma de expressão. O processo de escrever, sob o meu ponto de vista, é extremamente libertador. Uma terapia. Consigo fluir pela escrita com facilidade e emoção, isso gera prazer e desafio na mesma intensidade. Não sei o exato momento em que comecei, mas não consigo me lembrar também de nenhum momento em que estivesse à margem do escrever. Sinto fazer parte de quem eu sou, da minha identidade
.
Você começa o livro com uma frase bastante impactante para os cristãos mais conservadores: “Deus é um grande tatuador”. Qual sua visão sobre a quebra de paradigmas religiosos?
Não sou alguém que pode ser chamado de “criadora premeditada de caso” no aspecto quebra de paradigmas. O fato de sentir um forte encargo pela restauração da Igreja de Cristo coloca-me em contato com vários tipos de denominações e costumes religiosos. Não sinto que devo quebrar propositalmente qualquer paradigma ou ser uma voz ativa e consciente contra eles, apenas sou tomada pela sensação de dividir o meu relacionamento com os TRÊS de forma sincera. Quando ouvi pela primeira vez um comentário sobre a “primeira frase” do livro, citada por você na pergunta, levei um susto (acho que maior do que o da pessoa que me inquiria… rsrsr), olhei para a frase e pensei: “Poxa, o que há de estranho nisso? (rsrsr)”.
Acredito fortemente numa reforma cristã, sou favorável a ela, grito com convicção aquilo que tenho experimentado em Deus, mas não sou alguém que está muito ligado a paradigmas. Talvez, por isso, sinta-me tão livre em minha fala ou escrita.
Em “Peregrinos, altares e reis”, você lembra que tudo começa a partir de uma escolha pessoal, de como desejamos conduzir nosso relacionamento com Deus. Qual a forma que você tem encontrado para encontrá-Lo?
Tudo começa em minha necessidade VITAL de relacionar-me com Ele. Sei que, fora disso, minhas misérias ficarão mais fortes e volitivas. Partindo desse ponto, sinto-me impulsionada a buscá-lo, é um processo que me toma de forma desesperadora. Sinto-me sempre insatisfeita em minha relação com os Três, há sempre um chamamento para mais. Procuro disciplinar-me na leitura diária da Palavra, tempo de orar e na busca do silêncio, momentos em que posso afinar meu espírito para ouvi-Lo. Não há nada de muito grande, apenas me coloco ali, em todas as minhas inclinações, e espero que Ele venha!
Ser peregrino é uma identidade descoberta por aqueles que se aproximam de Deus. Existem momentos em que essa peregrinação foi mais percebida em sua vida?
Sim. Eu nunca havia ouvido o termo até sentir uma proposta pessoal do Senhor ao meu coração. No início da minha caminhada (cerca de 40 dias após ter me apaixonado por Cristo, para ser exata), tive a minha primeira grande experiência com o Espírito Santo. Lembro-me que Salmos 45:10 foi ressaltado aos meus ouvidos: “Filha, ouve, vê e dá atenção; esquece dos teus amigos e da casa do teu pai. Então o REI se afeiçoará da tua formosura; obedece-LHE, pois Ele é o teu Senhor.” Com o passar dos anos, compreendi que se tratava de um “modus vivendi”, uma maneira de caminhar nesta terra com o meu coração, anseio, olhares e esperança em nossa terra final, que, na verdade, não é um lugar, é UMA PESSOA!
Em “A vila, o vaso e o perfume”, você começa o capítulo tratando do quebrantamento. Quando cita Nancy L. DeMoss, escolhe um trecho em que a escritora fala sobre o fato de o quebra`ntamento ser uma escolha e não um simples sentimento. Como você entende nossa jornada com Cristo? Algo que parte de uma escolha pessoal ou uma escolha porque Ele nos escolheu primeiro? Como você vê o que defende o Calvinismo, por exemplo?
Não tenho dúvidas de que nosso amor, paixão, escolhas acertadas, quebrantamento são, todos eles, reflexos Dele mesmo em nós! Não penso que nosso relacionamento com Ele seja baseado num segmento doutrinário, acho que é prático, simples e diário. Sem dúvida, amamos porque fomos amados desde SEMPRE (Ele não está no tempo), mas o que tenho experimentado é que à medida que nos conscientizamos (através do relacionamento) de quem Ele é, qual a Sua vontade perfeita, Suas aflições e caráter, somos inseridos num processo de ESCOLHAS, dizer SIM ou NÃO aos Seus convites, Suas propostas e planos. Acredito que todos nós seremos provados no fato de que para ANDAR COM e APÓS Ele, teremos que nos negar diariamente e tomar nossa cruz, e esse é um convite a todos (calvinistas ou não).
Quando se refere à “Ônica” [substância odorífera empregada na fabricação do incenso sagrado – Êx 30:34-38], você fala a respeito do sofrimento e de sua função no amadurecimento dos eleitos. Pode contar sua relação particular com o sofrimento e o que ele acrescentou em sua caminhada com Deus?
Minhas primeiras “doses” de sofrimento, depois de rendida a Cristo, vieram com a perda do nosso primeiro filho. A lição aprendida a partir dessa experiência e de tantas outras que vieram a seguir foram amadurecendo meu coração e aparando minhas muitas arestas (ainda em processo…). Aprendi, lentamente, que devo amá-Lo por aquilo que Ele é. Poderia citar muitos outros momentos em que fui abraçada pela dor, mas acredito ser mais proveitoso ressaltar que Cristo, o Homem de Dores, é apto para nos ensinar a maneira correta de lidarmos com o sofrimento a fim de que Seu nome seja glorificado e nos tornemos mais parecidos com Ele (Hb 5:8).
Você cita no seu livro ter visitado a China. Qual a sua percepção sobre os cristãos daquele país?
Posso resumir numa só expressão: cristianismo legítimo e inspirador.
Logo no início do capítulo 4, você faz um convite ao leitor a entrar no Sinédrio com Jesus na ocasião de sua condenação, ouvir seu silêncio e levar desse episódio uma lição para a peregrinação. Pode nos contar alguma experiência pessoal que você teve com o silêncio de Deus?
Antes de citar uma experiência pessoal, preciso dizer que as palavras que proferimos a outros acerca de Cristo sempre serão provadas em nossa própria caminhada. Isso nos conduzirá a vivermos na prática daquilo que verbalizamos. Relacionando essa afirmação à pergunta, acho que quando esse nosso DEUS falador silencia, está nos ensinando algo, e eu posso citar os últimos 4 anos da doença do meu pai como um exemplo próximo disso.
Há muito tenho orado e ensinado: “Senhor, quero amá-Lo por QUEM O SENHOR É e não por aquilo que pode fazer.”
Repetidas vezes, nesse tempo de silêncio de Deus acerca da condição de meu pai, ao entrar em seu quarto para visitá-lo, ouço o Senhor perguntar: “Você ainda me ama pelo que EU SOU?”
Em “Além do madeiro”, você fala bastante sobre o significado da cruz na vida cristã. Em uma frase, especificamente, diz que “o caminho da cruz é o cunho da espera”. O que quer dizer com essa frase?
O caminho da cruz é uma forma de vida, um convite diário para negarmos a nós mesmos, nossas vontades e inclinações. Esse nível de RENDIÇÃO confronta o nosso sentimento imediatista e nos convida a vivenciarmos UM LARGAR, UM DEIXAR-NOS nAquele que sabe exatamente o que está fazendo; vivendo assim, teremos um selo, uma marca, uma índole, um caráter; enfim, tudo o que conceitua o cunho.
Ainda em “Além do Madeiro”, você fala bastante do conceito de espera na vida cristã. Em uma de suas frases, afirma que ela é altamente contagiante quando depositada em Deus. Você acha que os cristãos de hoje têm dificuldade em esperar?
Acredito ser um mal inerente a todos nós, tornando-se mais evidente nos cristãos porque Deus trabalha com o quesito “espera”. Somos uma geração que busca resultados instantâneos, impacientes e dados à precipitação. A dificuldade de ESPERAR é também um aspecto do nosso relacionamento com o Senhor. Por exemplo, somos muito rápidos em “sair de Sua presença”.
O ESPERAR é tão aflitivo porque aguça a nossa impotência e revela a nossa impaciência. Enfim, tudo aquilo que nos coloca mais próximos da nossa miséria é, num primeiro momento, rejeitado por nós.
No capítulo 6 do livro, quando você fala de compaixão, revela que costuma levar um anel durante os evangelismos e espera que Jesus aponte a quem deve dar. Como e por que surgiu essa ação?
Para mim é muito comum carregar marcas em minhas histórias com os TRÊS: objetos, músicas, momentos que me remetem a nossa história
e a reforçam. Acho que deixar uma marca para aqueles com quem repartimos Cristo tem seu valor. Quase sempre quando abordo uma mulher em situação de risco, dependência química ou prostituição, gosto de deixar um anel. Faço isso sempre no final da conversa, dizendo o seguinte: “Todas as vezes que olhar para esse anel, lembre-se: Jesus veio até você e gritou alto o amor
e o interesse por sua história e seu
coração!”