“Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom… Inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei um pacto perpétuo.” (Is 55:2-3)
Nesta época de Natal, é muito comum que a mídia, através das mais variadas formas de propagandas e anúncios, provoque a população a “gastar, gastar, gastar e gastar”.
Em casa, todos temos uma direção que nos esforçamos por seguir, direção essa pautada pela palavra de Deus e resultado de um relacionamento de longa data com Ele.
O objetivo deste artigo é compartilhar nossa experiência familiar na área financeira, sem pretender com isso torná-la um modelo infalível e único a ser seguido. Destaco, inicialmente, que, após termos saído das dívidas, temos experimentado paz de espírito e uma liberdade que não tem preço de podermos contribuir com os planos e propósitos de Deus. Uma vida sem dívidas é verdadeiramente uma vida liberta da escravidão do sistema e de sua influência. Que venham as propagandas, as promoções “imperdíveis”, as novidades mais belas e criativas possíveis. Tudo isso não nos motiva mais a fazer dívidas. A paz adquirida com a vida simples supera em muito estas coisas.
A direção sobre a qual concordamos em nosso lar tem quatro aspectos: 1) contribuir regularmente; 2) ofertar; 3) pagar as dívidas; 4) guardar um pouco.
Os detalhes de cada direção, na ordem em que as assumimos, serão vistos a seguir. Abordarei também, a título de conclusão, a importância de “administrar o restante”, gastando o dinheiro naquilo que primeiramente é necessário e importante e depois naquilo que não se enquadra nisso, mais comumente conhecido por “desejos”. Tudo isso depois de pedir conselhos a Deus quando surgem as dúvidas.
Primeiramente, quero enfatizar que a prioridade (o que vem antes) conta e muito. Entendemos que o que vem antes tem a primazia, é reverente, tem preferência, porque, de fato, é importante. O que vem antes diz muito sobre “onde o coração está”.
Contribuir regularmente
Entendemos que nossa contribuição ajuda a manter a obra de Deus atuante. Fazemos parte disso. Queremos contribuir com isso e o fazemos com muita alegria. Não se trata aqui de qualquer unidade de medida que possa expressar esse desejo genuíno do coração. Cremos e acordamos que o valor dessa contribuição deve ser encontrado no coração de cada um, com base em seu envolvimento com o estabelecimento do reino de Deus aqui na terra.
Conheço pessoas que contribuem com pequenas e outras com grandes quantias, não se limitando, porém, a 10 ou 50%. Uma vez que Deus enxerga o coração, importa apenas que sua motivação seja correta. Ao fazê-lo, que seja com alegria e se sentindo privilegiadas de poder contribuir com a implementação do reino de Deus. Mais importante que o tamanho da contribuição, é a prioridade e a periodicidade com que ela é feita, ou seja, não seremos encontrados “fiéis” se o formos de vez em quando ou quando sobra. É preferível contribuir com pouco, mas sendo regular com o compromisso, estando assim debaixo das promessas e da intervenção de Deus também nessa área, a ficar fora delas, esperando “um dia” contribuir com muito, e esse dia demorar para chegar ou não chegar nunca porque impomos a nós expectativas muito altas.
Ofertar
Novamente é uma questão pessoal. Embora apaixonados por Deus, sinceros e dedicados, muitos cristãos são inativos nesse aspecto, alegando não ter condições para ofertar. Boa notícia: não é assim que deve ser! Não mesmo! Ninguém é tão pobre a ponto de não ter nada a ofertar. Calma. Vou explicar.
Pensemos um pouco juntos. Quais são nossas verdadeiras necessidades? De quanto e do que precisamos para viver? Você pode “ainda” não ter decidido dar um basta num montão de dívidas desnecessárias em sua vida. Se não o fez, decida agora mesmo parar. Suas necessidades materiais têm uma certa medida. O que passar disso pode ser instrumento de bênção para aquele que está necessitado do seu excesso.
Em casa, por exemplo, já há muitos anos, combinamos que, ao adquirirmos alguma coisa nova, a anterior, que não estiver envolvida nessa nova aquisição, deve ser ofertada. Nem preciso mencionar que o objeto da oferta precisa estar em muito boas condições, limpo, funcionando, para abençoar nosso próximo. Por exemplo: comprei uma blusa nova. Elejo, então, uma blusa em meu guarda-roupas e abençoo alguém com ela. Não está em jogo se usei apenas uma vez, se está tão bonita, tão nova, se ganhei de uma pessoa querida etc. Importa que tenho um acervo que me atende prontamente, e o que excede a isso pode ser usado para abençoar alguém. Não é preciso acumular. Minhas filhas conhecem bem essa prática. Desde seus quatro anos, quando ganhavam um brinquedo novo, corriam para o quarto, verificavam o brinquedo com que não brincavam mais e o entregavam. Entendiam o significado disso. Brinquedo parado não gera sorrisos. Esse princípio vale para tudo: eletrodomésticos, cds, dvds, roupas, calçados etc. A casa fica leve, limpa, com itens que ocupam espaço porque são úteis e “necessários”. Pergunte-se a si mesmo de quanto você precisa para viver confortavelmente. Estabelecendo uma referência para ofertar, seguramente ela sempre vai estar presente na família.
A oferta em dinheiro também é bem-vinda e necessária na casa de Deus e na obra, porque sempre teremos necessitados em nosso meio e pessoas a serem alcançadas. Nesse caso, a quantia depende da condição e da motivação de cada um. Existe a oferta pautada pela “sobra” e existe a oferta pautada pelo amor (amor sempre vem autenticado por renúncia e trabalho). Sem esses dois ingredientes básicos, seguramente não se trata de amor. A motivação é o combustível para você ofertar. É ela, e não o valor financeiro, que define o verdadeiro valor de sua oferta. É o que aprendemos com o comentário de Jesus sobre as duas pequenas moedas ofertadas pela viúva pobre (Mc 12:41-44).
Há, no entanto, uma oferta mais preciosa, que excede a todas as outras: aquela de “doar-se a si mesmo”. Visitar, orar com alguém, ajudar a fazer uma limpeza em uma escola, levar um pedaço de bolo porque se lembrou de alguém etc. Tudo isso não tem preço, já que é impossível medir o benefício desse tipo de oferta. Quem a recebe se fortalece, e quem a pratica se fortalece duas vezes mais.
Pagar as dívidas
Esta é, em nossa opinião, uma questão total e completamente atrelada ao primeiro mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.
Seguramente falando e sem rodeios, nós facilmente nos metemos em dívidas desnecessárias ou precipitadas. Benefícios, satisfação, alegria e prazer no momento da compra de um bem ou serviço que queríamos muito nem sequer chegam a ser lembrados quando a conta está na nossa frente e o dinheiro não é suficiente para quitá-la.
Neste momento, tratamos de tomar a melhor decisão (em nosso favor, é claro) para ver a quem vamos honrar e a quem vamos deixar de lado. Faltaram a nós planejamento e disciplina. Se, de fato, somos imagem e semelhança de Deus, precisamos nos preocupar em representá-lo como Ele é diante dos homens, ou seja, Santo e Fiel. Se devemos a uma instituição financeira ou a um estabelecimento comercial, parece que nossa motivação em honrar o compromisso não é a mesma. Lembremos que quando uma instituição vem a falir, os empregados é que sofrem com isso, ou seja, seguramente um “próximo de alguém” (ou até mesmo nosso) será afetado.
O compromisso não se baseia na pessoa ou instituição à qual devemos, mas sim no fato de termos que honrar o que assumimos. Em algum momento, a instituição, o estabelecimento comercial, o irmão na fé ou a família prontamente confiaram em nós quando nos atenderam. Supriram nossa “necessidade” e/ou “desejo” (talvez precipitado ou desnecessário). E na hora de saldar a dívida? É comum, neste momento crucial, nem sequer dar uma satisfação: “Olha, vim aqui lhe dizer que não tenho como pagar, mas quero que saiba que estou providenciando isso da melhor maneira possível. Não me esqueci, não me é indiferente.” Neste ponto, não creio que em todos os casos haja má-fé ou mesmo má vontade. Imprevistos acontecem com qualquer pessoa, seja ela cristã ou não. O que nos falta, muitas vezes, é a humildade, o reconhecimento, seja de nossas fraquezas e/ou de nossos erros, diante do irmão ou do próximo.
Nunca me esqueço de uma irmã que veio a minha casa no dia combinado de um acerto para me dizer que tinha surgido um imprevisto, mas que ela estava empenhada em saldar o compromisso assim que possível. Naquele dia, creio que a alegria de Deus foi maior do que se ela tivesse acertado o compromisso. Fé e humildade foram exercitadas ali em sua plenitude.
Ter dívidas nos dias atuais não é algo incomum. A questão é: de que forma as estamos administrando? Elas não podem exceder nossa capacidade de saldá-las. Estou planejando bem? Estou pontuando os riscos? Posso ficar sem esse bem e/ou serviço e acumular o montante para adquiri-lo lá na frente, de preferência à vista?
Certa vez, por um problema de sistemas de informática, não recebi um benefício mensal que me era devido. Quando fui investigar o que aconteceu junto ao departamento competente, a resposta que obtive foi: “Não podemos fazer nada a esse respeito. Mês que vem regularizaremos.” Só tem um probleminha: nossas necessidades fixas não se comportam da mesma maneira. No mês seguinte, a dívida vem acompanhada de um monte de acréscimos: multa, juros etc. Se não atentarmos diligentemente para esse assunto, não poderemos dizer que somos testemunhas do Senhor Jesus.
Se você está endividado, a ponto de não saber como sair dessa situação, meu primeiro conselho é: pare agora mesmo de fazer novas dívidas e interrompa drasticamente sua forma de viver nesta área. Em segundo lugar, caso não se sinta seguro sozinho para administrar esse assunto, busque na Igreja alguém que possa participar de um desafio com você para sair da dívida. Busque orientação em um servo de Deus experiente e qualificado, que teve vitória nesta área. Aprenda a se planejar. Siga o plano, dê satisfações. Ore buscando arrependimento e a orientação de Deus para esta missão. Com desejo de mudar e envolvendo Deus nesta situação, seguramente você chegará ao dia que costumamos chamar de “Dia D” – dia sem dívidas. Para saber mais sobre dívidas, seus efeitos e maneiras de sair delas, procure pela edição 25 da Revista Impacto – “Dívida: uma nova forma de escravidão” (www.revistaimpacto.com.br).
Deixo aqui uma frase de um dos artigos da edição mencionada: “Comece a sonhar com a liberdade de não dever nada a ninguém e poder obedecer a Deus, seja qual for a ordem que ele lhe der.”
Guardar um pouco
Guardar para nós não tem o sentido de nos deleitarmos com o que alguma quantia pode nos proporcionar. Se lhe for possível, não há nada de errado nisso, desde que as prioridades anteriores foram devidamente satisfeitas. O guardar aqui tem outro sentido.
Não é muito comum vermos essa prática na igreja. Não temos tido muita folga financeira, mas sim um planejamento bem detalhado e acompanhado. Isso nos “força” a guardar.
A motivação para guardar é a seguinte: devemos nos atentar diligentemente para uma parcela mensal, que deve ser poupada para cobrir gastos pontuais anuais, tais como IPTU, material e uniforme escolar dos filhos, pintura da casa, férias, emergências, aquisição de uma casa (se esse for o caso), entre outros. Acredite, se proceder dessa maneira, a folga financeira desaparece e, com ela, alguns gastos desnecessários também. A diferença é que quando as necessidades mencionadas chegarem, você estará preparado e tranquilo.
Administrar o restante
Eis um grande desafio. Grande porque, às vezes, em razão da nossa falta de visão ou de um planejamento definido (por escrito, apresentado à família e aceito por todos), saímos gastando naquilo que é um “desejo” e não “necessidade”. Não que um desejo pessoal não possa ser atendido, não se trata isso, mas ele tem que vir na ordem correta, para que uma necessidade futura não lhe pegue desprevenido.
O Natal esta aí, e apesar de o seu verdadeiro sentido não ser o “consumismo”, esta prática reina soberanamente. Pessoas presenteiam e são presenteadas, às vezes até para cumprir uma rotina, uma tradição. Muitas vezes, o presente ganho não mudará muito as coisas. No dia seguinte, passará despercebido. A triste questão é que não havia “liberdade” nem “recursos” para isso. Faltou planejamento. Esse cenário, tristemente, inclui muitas famílias cristãs. Mas, graças a Deus, há também oportunidades de mudanças e aprendizado. Quem bate a Sua porta buscando por sabedoria sempre achará. Vale a pena viver de maneira tranquila e administrar o que Deus confia em nossas mãos.
Precisamos nos empenhar para sermos mordomos fiéis e diligentes ao administrar o que, de fato, pertence tão somente ao nosso Deus. Lembremos que nosso estilo de viver, a casa, o carro e os bens de que cuidamos refletem a maneira como priorizamos nosso dinheiro.
O Natal está aí… É hora de vigiar, discernir e mudar. BABILÔNIA vai cair. Sai dela povo meu!