Jesus contou uma parábola (Mt 13.47-50) comparando o reino dos céus com uma rede que, lançada ao mar, apanha uma grande quantidade de peixes de toda espécie. Em seguida, os pescadores sentam na praia e separam os peixes, colocando os bons no cesto e atirando fora os ruins.
Estes dois momentos da pescaria são bastante distintos: enquanto as redes são lançadas ao mar, há uma grande agitação, pois os pescadores orientam uns aos outros, comunicando-se aos berros para vencer o barulho das ondas que dão contra os cascos dos barcos. Depois disso, faz-se uma calmaria, os barcos ficam atracados, e os pescadores, sentados, separam os peixes.
Na construção do templo em Jerusalém, realizada por Salomão, também se podiam distinguir duas fases. Na primeira, milhares de pessoas preparavam o material fora da cidade, nas pedreiras e nas florestas. Outros milhares cuidavam do transporte. Era um trabalho feito com muita agitação e barulho. Entretanto, na outra fase, a construção da casa propriamente dita e seu acabamento se davam sob silêncio, não se ouvindo nenhuma ferramenta de ferro. Era apenas uma questão de encaixar as peças já dantes preparadas (1 Rs 6.7).
Há três momentos na história, muito agitados por milagres e maravilhas, que chamaram a atenção de seus contemporâneos. O primeiro foi o êxodo do povo hebreu, liderado por Moisés, que atravessou o deserto, indo do Egito para Canaã. O segundo foi o ministério de Jesus Cristo seguido do da igreja nascente, registrados nos Evangelhos e no livro de Atos dos Apóstolos. O terceiro aconteceu no século XX, como consequência do Movimento Pentecostal. Este se sobrepôs aos anteriores. Contudo, desvaneceu-se, restando, ainda, pouca reminiscência dele, pois não se multiplicou como era esperado. Composto por múltiplos ministérios individuais, foi também marcado por vaidades, disputas e muitas divisões, ao lado de muitos milagres em escala jamais vista.
Embora muitos desejem o seu retorno e tentem repetir as mesmas ações daqueles ministros, não obtêm os mesmos resultados. Podemos considerar como plausível que já tenha passado o momento de Deus agir dessa maneira. Então, devemos mudar o nosso modo de pensar: em vez de esperar um retorno ao século XX ou a prorrogação daquele movimento, podemos considerar que estamos no pós-pentecostalismo.
Comparando o Movimento Pentecostal do Século XX com a primeira fase da pescaria e da construção do templo, percebemos que a semelhança entre esses acontecimentos encontra-se na grande agitação e barulho que os caracterizou. Seguindo a sequência, há um grande silêncio na atividade complementar, seja quando os pescadores, sentados, separam os peixes, seja quando o templo é montado e acabado. Assim, é razoável pensar que depois de toda agitação pentecostal, poderá surgir um período de avivamento reformador silencioso.
Durante os dias do Movimento Pentecostal, quando se via alguém expulsando demônio e pregando com grande eloquência e aos gritos, este era identificado como pentecostal. Entretanto, de igual estardalhaço foram também os escândalos.
Como nos exemplos comparados, o avivamento silencioso se caracteriza como a última etapa do processo, portanto profundamente escatológico. A essência da Nova Aliança é a Lei de Deus inscrita em nosso interior (Jr 31.32-33) como consequência da habitação do Espírito Santo que conduz à realização da vontade de Deus. Ele nos ensinará guiando a toda a verdade (Jo 16.13). Este período será marcado pela discrição e, portanto, sem espaços à vaidade e à disputa. Além disso, será propício à unidade. As atitudes de justiça, fidelidade e misericórdia irão se sobrepor às ações externas de frequência ao templo e contribuições filantrópicas públicas, entre outras ações de explícita piedade, conforme ensinou Jesus em Mateus 23.
Também é interessante notar que na parábola das 10 virgens (Mt 25.1-13), nada se via nas prudentes que as diferenciasse exteriormente das néscias, pois todas dormiam quando da chegada do esposo. No entanto, o azeite que as primeiras possuíam não seria outra coisa senão o Espírito Santo, e foi Ele quem o Senhor reconheceu nas prudentes.
Portanto o avivamento silencioso não será protagonizado por aqueles que expulsam demônios, oram ou profetizam aos berros ou são conhecidos pelas gordas ofertas que fazem publicamente. Dele farão parte aqueles que fazem a vontade de Deus, seguindo os ensinos do Espírito Santo que os habita. Estes rejeitarão a propaganda, serão mansos, humildes, pobres e dedicados ao serviço, principalmente aos mais simples, e sempre em unidade