Este artigo encerra a sequência sobre dons proféticos, assunto que o autor vem pesquisando desde 2002 e compartilhando em muitos lugares.
Este último artigo desta série, a título de conclusão, revisita alguns conselhos práticos já abordados em artigos anteriores e acrescenta novos conselhos, que nos ajudarão a fluir melhor nos dons proféticos.
Todo dom é original em sua essência; um mesmo dom pode trazer tantas expressões diferentes quantas são as pessoas em quem eles estão presentes. É muito comum observarmos, no meio cristão, pessoas que imitam expressões, trejeitos e o tom de voz de alguém que tenha unção, sucesso ministerial e grande aceitação por parte do povo. Isto também acontece no ministério profético e, em determinadas igrejas locais, o estilo ministerial do líder é repetido por todos como uma fórmula mágica para garantir a manifestação do Espírito Santo de Deus. Você pode até ser influenciado por alguém, almejar um dom semelhante ao que a pessoa tem e ser tentado a escolher o caminho mais fácil de repetir o que a pessoa faz. O resultado disso, porém, não passará da mediocridade, e as demais pessoas perceberão que você está encenando e não valorizarão seu dom como deveriam. Você pode ser muito bom sendo você mesmo quando andar no caminho da dependência de Deus, e não da imitação.
Note que os milagres bíblicos, em geral, aconteceram apenas uma única vez. Só uma vez o Mar Vermelho se abriu para o povo passar. Somente Jericó foi conquistada com louvores e não com peleja. Apenas uma vez Gideão derrotou os inimigos usando uma tocha num vaso de barro. Jesus curou apenas um cego usando saliva e lama, dentre outros milagres feitos de forma exclusiva. Deus também não quer produção em série de pessoas. Mesmo que você encontre alguém com o mesmo dom que o seu, a forma de agir de cada um será tão diferente que parecerá se tratar de dons diferentes.
Ministério profético não quer dizer ausência completa de insegurança
O que profetiza não tem total segurança naquilo que está falando (1 Co 13.9). É imperativo entendermos que podemos errar, e que poucas vezes estaremos totalmente corretos sobre determinado assunto. Independente de quão precisas possam ser nossas revelações ou interpretações, vemos apenas em parte. Até porque Deus não precisa expor a vida de uma pessoa para nós, ou publicamente, para que esta seja abençoada. Quem faz isto é o diabo, para trazer vergonha e destruição. Não devemos pensar que pessoas usadas por Deus, como John G. Lake, Kathryn Kuhlman, Aimee MacPherson e Willian Branham, tinham total segurança e domínio sobre seus dons milagrosos. Todos estes falavam coisas incríveis e tinham uma certa apreensão para o que Deus faria em seguida. A bênção vem do alto, e não temos como fazer com que uma profecia ou palavra de cura se cumpra sem o agir de Deus. Quando a pessoa está muito segura de si mesma em seu ministério, é porque, provavelmente, já entrou num desvio e não depende totalmente de Deus. Neste filme, ela morre no final!
Uma postura de humildade em nosso coração e mente evitaria muitos erros e nos abre para receber revelação adicional através de outras pessoas também usadas por Deus. É interessante ver o mover profético genuíno quando o Espírito Santo usa várias pessoas trazendo partes de uma revelação como peças de um quebra-cabeças. Quando juntamos tudo, vemos que tudo fez sentido, e a alegria de depender de Deus e sermos usados por ele é indescritível. É muito melhor e mais bonito do que participar de algo em que toda palavra parte de um grande servo de Deus. Melhor é sermos servos do grande Deus. Por que Deus permite que pessoas ungidas não consigam interpretar, ou interpretem de forma errada a revelação que recebem? Para os manter em humildade, sempre ensináveis, a fim de que reconheçam e valorizem o dom das outras pessoas, para não atribuirmos infalibilidade a ninguém, por mais dotado profeticamente que seja.
Afiando a sensibilidade espiritual: a prática dos dons
Deus fala de diferentes maneiras e ao mesmo tempo. Todo este estudo é didático e, na prática, o mover do Espírito não é tão organizado. Você pode receber uma visão e uma impressão profética, associadas a uma palavra de conhecimento, seguida de um discernimento de espíritos, ou outra forma de revelação. Deus opera desta forma para melhor compartilharmos a revelação à pessoa, trazendo sua libertação ou edificação. Devemos crescer em experiência, sabedoria e sensibilidade, para que possamos fluir de forma mais poderosa.
Muitas pessoas acreditam que, estando em uma reunião, ao receberem uma revelação do Espírito Santo, devem interromper o que está sendo feito e profetizarem em voz alta para toda a congregação. É muito difícil que Deus queira isto, e este geralmente não é o momento mais adequado. Embora possamos sentir a unção e poder sobre nós para profetizar, mesmo assim mantemos pleno controle sobre nosso espírito. Podemos até usar este tempo de espera para trazer mais clareza à nossa palavra. É isto que significa o “pedir, buscar e bater” nas palavras de Jesus. Pedimos e recebemos, buscamos mais e achamos, batemos e a porta é aberta. A palavra cresce com esta prática! Até porque o espírito do profeta está sujeito ao profeta (1 Co 14.32).
Praticar um dom espiritual pode parecer estranho, mas pode afiar a sensibilidade e evitar erros de interpretação, exercitando o nosso dom. Você pode orar silenciosamente por garçons, caixas de banco e depois testar o que recebeu do Senhor fazendo perguntas a eles. Isto faz com que cresçamos no discernimento e compreensão da voz do Senhor, além da possibilidade de ministrar poderosamente a estas pessoas. Como uma estação de rádio, Deus está o tempo todo ligado, manifestando sua glória, querendo nos abençoar e ter comunhão. Quem está “sintonizado” na mesma frequência dele acaba ouvindo sua voz, compartilhando seus anseios e sendo usado para cumprir seu querer. Na Igreja, o ambiente é mais propício ainda, pois podemos pedir a Deus que nos revele o que está em seu coração acerca de cada um de seus filhos. Quando Jesus disse que só fazia o que via o Pai fazer, estava mostrando que, antes de fazer qualquer coisa, buscava compreender o que acontecia no mundo espiritual em primeiro lugar. Se uma coisa já foi decretada nos céus, podemos ser o canal para a sua manifestação no mundo natural. Os dons de cura e milagres são potencializados quando acompanhados deste dom de palavra de conhecimento, que pode ser muito útil nesta hora. Como falamos, alguns têm dificuldade em começar a profetizar; outros têm dificuldade em parar (“Quando são muitas as palavras, o pecado está presente, mas quem controla a língua é sensato” – Pv 10.19).
Nem além nem aquém
Não devemos profetizar além do que recebemos do Senhor. Ao verem pessoas profetizando nomes, datas e detalhes íntimos sobre alguém, muitos iniciantes no ministério profético querem profetizar além do seu nível de fé, trazendo problemas que poderiam ser evitados. Geralmente não começamos em um nível elevado, mas vamos tendo maior clareza e menção de detalhes ao ganharmos experiência e confiança (Mc 4.26-28). Não despreze os primeiros passos. Mesmo que sua percepção espiritual se limite a discernir a presença de Deus no lugar, fale isso! Suas palavras podem encorajar a outros irmãos.
Não podemos acrescentar algo de nossa cabeça à palavra revelada: “O profeta que tem um sonho conte o sonho; e aquele que tem a minha palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor. (…) Eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que usam de sua própria linguagem, e dizem: Ele disse. Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e fazem errar o meu povo com as suas mentiras e com as suas leviandades; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e não trouxeram proveito algum a este povo, diz o Senhor” (Jr 23.28,31-32). A Palavra de Deus é poderosa para quem Deus quer abençoar, mesmo que não faça sentido algum para o profeta: “Porventura a minha palavra não é como o fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a pedra?” (v.29). Se Deus nos revelou algo, não devemos ser tímidos e nos calar: “Portanto, eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu próximo” (v.30). No entanto, “Ao que tem [um coração responsivo à voz de Deus], mais lhe será dado” (Mc 4.25).
O dom de profecia não é dado para controlar pessoas
Profetizar é correr riscos e viver perigosamente. Avance além da zona confortável. Se acharmos que podemos viver sem alguma realidade espiritual, provavelmente será desta forma. Mas se pedirmos uma revelação mais específica ou mais detalhada ao Senhor, além do que ele já nos tem dado, ele atende nosso pedido. Esta revelação maior pode ser testada, quando informamos à pessoa que não estamos com plena confiança e perguntamos a ela se o que dissemos faz-lhe sentido. Mesmo trazendo a revelação desta forma, o seu impacto não diminui. (Lembre-se de que não devemos ministrar fora de nosso nível de revelação, compreensão e fé.)
Jamais podemos esquecer que os dons são capacitações que Deus nos dá para melhor servir ao seu povo, devendo sempre exercê-los sobre os trilhos do amor. Não podemos pretender controlar quem quer que seja, tampouco nos impor sobre alguém por meio de uma revelação profética. A manipulação de pessoas é algo maligno que nunca devemos fazer. Esta é a essência do falso profeta no Velho Testamento. O dom não nos foi dado para dirigir as pessoas ou atraí-las sob nossa influência. Um bom caminho de aprendizado para um líder é aprender que servir a Deus é servir às pessoas e que Deus dá autoridade a quem ele quiser. Fomos chamados a encorajar e não para forçar ninguém a obedecer a Deus, muito menos a nós.
“Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti, e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio [a palavra se cumpre, o milagre acontece de fato], de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los [este outro deus, ou ídolo, pode ser ele mesmo, seu ministério, sua instituição religiosa, que acaba por mudar o foco de seu ouvinte de Jesus para o homem, ou qualquer outra coisa]; Não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos; porquanto o Senhor vosso Deus vos prova, para saber se amais o Senhor vosso Deus com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma. Após o Senhor vosso Deus andareis, e a ele temereis, e os seus mandamentos guardareis, e a sua voz ouvireis, e a ele servireis, e a ele vos achegareis” (Dt 13.1-4).
Diferentemente, a profecia no Novo Testamento geralmente não é no estilo de confrontar ou repreender alguém.
Outros ensinamentos práticos
Deus valoriza as Escrituras, a palavra escrita. Ao guardamos a palavra de Deus em nosso coração, crescemos espiritualmente em todos os níveis, e não somente no ministério profético. Uma excelente prática para aqueles que profetizam é trazer confirmação ou justificativa por meio das Escrituras para o que tenha profetizado. Mesmo quando existe simbolismo contemporâneo, existem princípios bíblicos que podem trazer suporte à revelação. Toda palavra profética cresce em sua autoridade quando acompanhada de um trecho das Escrituras.
Obedeça ao seu pastor e àqueles que têm responsabilidade e zelam por sua vida. Se há o desejo de crescer espiritualmente, devemos honrar ao pastor, pois precisamos mais dele do que ele de nós. E isto mesmo que ele não compreenda uma revelação, por não atuar com fluência no ministério profético. E ao desfrutarmos da amizade de pessoas amadurecidas, aprenderemos com sua sabedoria e evitaremos os erros que foram cometidos no passado. Por outro lado, os pastores precisam compreender a variedade de dons e ministérios no corpo de Cristo e não desestimular e sufocar a atuação dos mesmos.
Busque sempre a confirmação do Senhor. A vontade de Deus é revelada como as luzes alinhadas em uma pista de aeroporto, mostrando o trajeto para o avião decolar ou pousar. Apenas uma luz não é suficiente para nos mostrar o caminho a seguir. Quanto mais confirmações, a segurança aumenta. Por outro lado, Deus também fala pela “ausência de revelações”. Talvez ele queira nos dizer: “Não é este o caminho!”
Devemos ministrar o amor de Deus de todas as maneiras possíveis. Fica difícil querer encorajar alguém se com o nosso semblante estamos atemorizando-o. Se for ministrar para alguém que está sentado, agache-se, coloque-se na posição de servo. Sorria sempre. Lembre-se: Deus busca profetas que transmitam o que está em seu coração, e não apenas suas palavras. Também não podemos impor as mãos na cabeça de alguém sem permissão. O fato de termos uma revelação para alguém não nos dá o direito de violar a sua soberania pessoal. As pessoas têm o direito de determinar quando e quem poderá impor as mãos sobre si.
No campo pessoal, as feridas e rejeições do passado causam reações em nossa alma, tornando nosso discernimento suspeito. Devemos curar nossas feridas, pois nosso “discernimento” pode ser decorrente do medo e desconfiança, e não da parte de Deus. Muitos, por este motivo, trazem palavras negativas, principalmente para sua liderança: “A sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos” (Tg 3.7). Nossos sentimentos não podem ser confundidos com os de Deus. Dar a entender que Deus estava irado, quando não estava, foi o que desqualificou Moisés (Nm 20.12). Quando somos provocados, devemos manter a boca fechada, para não falar inadvertidamente, trazendo maldição sobre o povo e juízo sobre nós (Sl 106.33).
Muitas vezes recebemos uma revelação que parece indicar que a pessoa está em pecado, contradizendo os princípios de edificar, encorajar e consolar. Na maioria das vezes, o Senhor está nos revelando o plano e intenções do inimigo, e não o que está acontecendo ou o que a pessoa está planejando. Temos que partir do pressuposto de que esperamos e cremos que a pessoa queira fazer o que é certo (1 Co 13.7). Quando Deus nos revela o plano do inimigo, é para que o possamos anular e destruir, e não profetizar para que se torne realidade.
Algumas pessoas, por medo ou para eximir-se de responsabilidade (caso haja algum erro), apresentam a palavra profética em forma de oração. Devemos andar por fé e sermos sinceros com as pessoas, não deixando que o medo dirija nossas vidas. As profecias precisam ser julgadas, e as pessoas precisam saber quando estamos profetizando ou simplesmente orando. Em alguns casos, é justamente durante a oração que Deus nos traz as revelações. Sendo assim, não temos como não orar profeticamente, mas é bom falarmos para a pessoa que tudo o que oramos foi fruto de revelação, expressando o que Deus tem no coração em relação a sua vida ou algo em particular.
Resumindo: andar em amor nos capacitará a evitar a maioria dos erros que comumente têm sido cometidos por imaturidade no ministério profético. Buscar o amor é essencial (1 Co 13).