Eu gostaria de ler alguns versículos com os irmãos. Se vocês quiserem acompanhar, eles estão em Efésios 4. Os versículos 3 e 4, de Efésios 4, dizem assim: “esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos”. Agora os versículos 13 até o 16: “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor”.
Eu preparei um trabalho segundo o tema da Conferência, “A igreja de hoje”. O meu tema é: “Para onde caminha a igreja” ou “O perfil da igreja”. Como a gente está um pouco distante e o contato foi por telefone, e o meu entendimento não foi total, eu me preocupei em preparar, em pesquisar e conhecer as tendências da igreja hoje. Eu sabia e sei alguma coisa sobre a igreja. Bastante coisa. Mas quando a gente vai falar pra um grupo seleto como este, ou qualquer grupo, a gente tem a preocupação de sistematizar, que é a minha formação. Eu dou graças a Deus por aqueles que não têm essa preocupação, mas eu gosto de sistematizar as idéias. Eu estou numa fase de aprendizado: eu só tenho 75 anos. Eu comecei já a aprender a desaprender.
Eu fui um pastor presbiteriano. Depois de ter sido batizado com o Espírito Santo, passei a crer na Palavra de Deus. Naquela época, a Igreja Presbiteriana não acreditava em toda a Palavra. É como um dos palestrantes disse, o Haroldo: [a pessoa] ouve a Palavra, lê a Palavra, mas não conhece, de fato, a Palavra. Portanto não vive a Palavra. Eu gostaria de ter tido um professor no seminário como o Haroldo, que é mestre e profeta. Como ele disse, se um crente novo ouvisse uma palavra dessas [a respeito da Graça e da grande libertação em Cristo, como a que o próprio Harold Walker ministrou], desde a sua conversão, a igreja teria um outro caráter hoje.
Depois que eu saí da Igreja Presbiteriana, achei que tinha feito uma grande coisa. Surgiu um novo grupo: Igreja Cristã Presbiteriana. Com o fato de ter juntado a palavra “cristã” ao nome da igreja, achei que tinha evoluído, que tinha dado uma grande contribuição para a igreja de Cristo. E começamos com novos propósitos, querendo fazer alguma coisa diferente. Mas depois de algum tempo, a gente estava repetindo a mesma estrutura. Eu disse comigo mesmo pra Jesus: “Não é isso, Senhor. Eu não estou fazendo a coisa certa”. O Ulysses Bueno, que era presbítero na época e depois foi ordenado pastor, foi um forte companheiro nosso. Ele é testemunha de que eu quis introduzir o discipulado naquela época. Li todos os livros que eu podia sobre discipulado. Eu achei que o caminho era o discipulado, mas o grupo todo não foi de acordo, e também nós não estávamos preparados porque, pra fazer discipulado, tem que ter aprendido a amar. Ninguém faz discipulado sem ter paixão pelas almas, pelos companheiros.
E nisso ficamos algum tempo. Um dia eu creio que surpreendi a liderança ao dizer pra eles: “Eu não vou continuar mais”. Aquele que me auxiliava no pastorado mais diretamente, o pastor Joed, assumiu o meu lugar, e eu mudei de cidade. Eu disse: “Não quero ser mais pastor, eu vou seguir a minha vocação”. Meu dom principal era o de professor, atividade que pude exercer tendo me mudado para São José dos Campos. Deus abriu as portas, e nós exercemos o magistério como ministério. Eu tinha plena certeza de que eu estava servindo ao Senhor como professor. Logo se converteu uma moça, professora de inglês, com o nosso testemunho. Então eu a entreguei à minha esposa pra que fosse discipulada. Nós temos muita gratidão a Deus porque ela continua firme nos caminhos do Senhor. Participa de uma igreja lá no Rio de Janeiro.
Depois, alguns moços que leram meu livro “Problemas da Renovação Carismática” me procuraram e disseram: “Nós queríamos orar com o senhor e saber mais sobre os dons espirituais”. Nós aceitamos aqueles dois moços e fomos orar com eles, e o grupo foi aumentando. Vieram mais três, quatro, cinco e, depois de algum tempo, nós tínhamos setenta pessoas adultas. Já não dava mais pra ficar dentro de casa e nós não tínhamos nenhuma instrução: não sabíamos como formar uma igreja no lar, embora já estivéssemos nos comportando como tal. Mas eu não fui educado, eu não tinha relacionamento com colegas, não tinha comunhão. Não era a minha hora.
Eu disse para o grupo que eu não queria ser pastor de igreja, embora tivéssemos uma igreja de setenta pessoas – é um bom número para um igreja funcionar, no sentido como a gente conhece essa palavra igreja. E formou-se a comunidade cristã. Estivemos dezesseis anos na companhia desses irmãos, mas eu não era o pastor principal. Eu era apenas um colaborador e continuava na minha profissão de professor. E esse grupo cresceu muito. E quando estávamos com cerca de 2.000 pessoas e uma liderança de 130 varões e varoas, fazendo muita coisa fora dos padrões bíblicos, eu achei que deveria deixar essa estrutura. Eu não me sentia bem nesse meio. Houve uma reunião da liderança e eu declinei dessa estrutura corrompida, em que muitas coisas em nome de Deus eram feitas. Mas eu não via Deus em tudo, como não vejo hoje em muitos grupos.
Eu abençoei aquela liderança. Pedi a graça de Deus pra eles e fui para a igreja Batista do Povo, de São José dos Campos, local que freqüento ainda hoje. Não posso falar mal da minha igreja, mas posso falar a verdade: eu gosto do pastor, é um homem íntegro, um homem sério; veio da Convenção Batista Nacional. Eu estou aqui com a bênção dele, mas não é a estrutura que Deus quer. Há muita coisa emperrada, há muita coisa pra ser desaprendida ainda. Eu fui conversar com ele e falei que tinha esta tarefa [a de falar na Conferência]. Ele até me ajudou, e eu preparei algo interessante, com visual, não pra impressionar ninguém. Eu achei que era uma coisa boa, mas aqui Deus me mostrou que não é o principal. O foco principal é outro: a formação do corpo de Cristo pela busca da perfeita varonilidade de Cristo, o homem perfeito. Mas eu não quero adiantar.
Eu vou falar um pouquinho da introdução. De início, eu me senti um pouco assoberbado com o tema e, como pela minha formação intelectual eu estou acostumado a sistematizar e a escrever, foi o que fiz. Então o primeiro texto que o Senhor me falou foi este: para eu não declinar do convite, o Senhor me disse: “Agora, pois, atende a tudo porque o Senhor te escolheu para edificares casa para o santuário; sê forte e faze a obra” (1 Cr 28.10). Depois, pelo Espírito Santo, senti de Deus que não era só pra mim. Nós somos chamados para edificar santuário para o Senhor, e isso está em consonância com todas as palavras ouvidas aqui. Você, meu irmão, e você, minha irmã, são chamados para edificar um santuário para o Senhor. Louvado seja Deus!
Depois o Espírito Santo ainda me mostrou este texto: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” (Ec 9.10). Isso falou forte no meu coração: tenho que aproveitar o tempo hoje; aproveitemos o tempo que é do Senhor. A obra do Senhor foi confiada a nós.
E, finalmente, o Senhor me falou que a sua obra tem que ser feita sem “stress”. Antes de ir ao céu, Jesus falou com os discípulos: “Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (Jo 16.24); em seguida, Jesus falou com o Pai: “Mas, agora, vou para junto de ti e isto falo no mundo para que eles tenham o meu gozo completo em si mesmos” (Jo 17.13). Eu comecei a refletir sobre o “stress” na obra de Deus. Daria pra falar aqui o período de uma Conferência só sobre esse assunto, mas vamos passar ligeiramente sobre ele: a fadiga, o corre-corre, os afazeres, as programações intensas das igrejas que cansam, às vezes, os obreiros. E nem sempre são todos os crentes, mas uma equipe próxima do líder principal. Tanto trabalho pode até ter algum resultado, mas entendo que não é isso que deve acontecer na obra de Deus. Eu creio que a obra de Deus, como Jesus falou, tem que se feita com alegria, com gozo, com regozijo, sem tensões nem preocupações. Dessa preocupação, por exemplo, que eu tive para preparar, eu espero ficar livre brevemente. Nós somos livres, somos libertos e temos que viver essa realidade, numa comunhão íntima com o Senhor.
Uma igreja à prova de crises
Uma das coisas que nos foi solicitada era para dizer o que está no nosso coração. Então eu escrevi isto: “Há uma revolução no seio da igreja”, que começou nos anos 60, mais ou menos, quando surgiu um movimento de avivamento nacional nas denominações. Alguns dos que estão aqui, poucos, participaram dele. Então houve uma explosão: surgiram várias e várias congregações novas, vários grupos. As igrejas tradicionais históricas existiam com uma estrutura fechada. Hoje algumas implementaram algumas modificações na liturgia, com o intuito de agradar a públicos distintos. Há, por esse motivo, uma explosão de novas igrejas com estrutura “light” e novas estratégias de comunicação. [Fica a pergunta:] Os líderes das igrejas tradicionais devem repensar a natureza das mudanças a serem efetuadas, seguir modelos ou voltar às origens? É uma coisa a pensar, para os pastores pensarem.
A obra de Deus realizada pela igreja militante deve ser feita com alegria. Evangelismo, missões, cultos abençoados, ministério de casais, em tudo isso deve haver uma euforia, um regozijo no fazer, com a consciência de que se está trabalhando para a extensão do Reino.
Eu fiz um questionário – não digo que seja uma pesquisa, porque não está totalmente nos moldes sociológicos e científicos – [para sondar certas percepções de algumas pessoas sobre a igreja]. Uma das perguntas era se a igreja está ou não em crise. Muitos responderam que a igreja está em crise. À pergunta “se houvesse milagres hoje, as pessoas se converteriam mais fácilmente?”, muitos disseram que sim, embora não acreditassem que houvesse unanimidade, ou seja, nem todos se converteriam.
Eu digo que a igreja de Jesus não está em crise. Esses grupos dissidentes que existem e saíram da igreja, ou não se converteram – porque saíram para formar “outros grupos”, outras igrejas –, ou não foram discipulados ao ponto de entronizar Jesus totalmente, portanto estão sem direção. Existem tantos grupos novos. Nós moramos em São José dos Campos, uma cidade que tem mais de mil Igrejas e três conselhos de pastores (o quarto está para ser formado). Tem um conselho de pastores das igrejas tradicionais históricas; tem um conselho de pastores das igrejas avivadas (eu participo desses dois) e tem um conselho de pastores das Assembléias de Deus, que têm cento e quarenta igrejas na cidade.
Mas vamos para Efésios 4. O versículo terceiro diz para nos esforçarmos diligentemente para preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz. Uma das questões que eu sempre ouço como reclamação, às vezes como justificativa de certas atitudes, é que não há unidade na igreja. Eu quero, com o apoio de alguns outros servos de Deus, discordar desta posição: a igreja nunca perdeu a unidade; a igreja tem unidade. O que a igreja não tem é união, mas unidade ela tem. A unidade da igreja é baseada num só corpo, num só Espírito e numa só esperança. Se nós sairmos daqui e formos para a Europa, a qualquer cidade, a um lugar onde se prega e se vive Jesus Cristo, nós vamos ver que eles crêem num só corpo, num só Espírito e têm uma única esperança. É isso que é unidade na igreja.
Depois Paulo menciona mais três elementos: há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Igreja de Cristo em qualquer lugar do planeta crê é no Senhor Jesus Cristo e tem a mesma fé. O fundamento da fé é somente a Palavra, não há outra base. E todos também crêem que eles foram batizados no mesmo Espírito.
Eu vejo que a igreja está passando por uma situação, falando genericamente, de transição, uma situação de mudanças, uma situação boa porque Jesus falou que as portas do inferno nunca vão prevalecer contra ela. É tarefa do Espírito Santo conduzir a igreja, abrir ou fechar as portas, transformar as pessoas, levantar os ministérios. Isso o Espírito Santo está fazendo em todo lugar: está salvando, está libertando, está curando. O nosso conhecimento é muito pouco, as nossas informações são insuficientes para emitirmos juízos absolutos. Nós conhecemos em parte. Semana passada eu conheci o pastor Alexandre, lá de Ubatuba, um pastor bastante entusiasmado. Ele veio ao conselho de pastores das igrejas tradicionais e nos deu uma palavra ali, o seu testemunho, para cerca de oitenta pastores. Ele tem em sua cidade cento e cinqüenta grupos de discipulado, de quinze pessoas cada grupo. Ele contou um fato de uma pessoa que se converteu numa das células. Essa pessoa é aidética. O pessoal da célula decidiu investir nessa vida tão desprezada em sua comunidade. Deram-lhe toda a assistência material e espiritual, incluindo médicos, encaminhamentos, soluções de problemas, roupas. A mulher foi mudando de aparência, foi sendo animada com as orações, e não tardou muito para a comunidade notar a diferença na vida daquela mulher. Então foram perguntar pra ela o que os crentes estavam fazendo em sua casa, se estavam ali para explorá-la. Ela respondeu: “Não, pelo contrário. Eles têm falado palavras muito bonitas, mas não é só o que eles sabem fazer. Eles têm me trazido roupas, têm me levado ao médico, têm me trazido remédios, eles têm se preocupado comigo”. E o testemunho daquela mulher foi tão positivo, que começou a atrair outras pessoas. Alguns foram se interessando, formou-se uma célula na casa da mulher, que terminou por se converter e foi batizada. Em seis meses, essa célula se multiplicou cinco vezes: setenta e cinco pessoas se converteram. O Espírito Santo está operando. Quando eu vejo o trabalho que Deus está fazendo conosco aqui, especialmente neste grupo [referência aos organizadores da Conferência], que eu conheço desde o início, meu coração se enche de alegria: jovens edificados, transformados, abençoados, líderes verdadeiros que se apresentam diante de Jesus Cristo como obreiros sérios. Homens e mulheres que eu respeito, a quem, com certeza, Jesus ama.
Às vezes, somos levados a entrar na onda. Também é tanta gente que fala que a igreja está em crise, a igreja está falida… Isso é Satanás quem fala. O Espírito Santo me deu discernimento de que o diabo anda querendo destruir a igreja desde os primórdios. No século primeiro, ele levantou Judas; antes, criou seriíssimos problemas na igreja primitiva; no século segundo, levantaram-se os gnósticos (quem leu um pouco da história da igreja, fica penalizado com o trabalho que tiveram os apóstolos – especialmente João se preocupa sobremaneira – em defender a igreja. Mas ele não estava lutando contra os gnósticos. Ele tinha certeza de que era uma força maligna que se levantava, era o espírito do anticristo, como ele disse, “que já está no meio de vós”. E ele recomenda amorosamente como se livrar desse espírito. No século terceiro, levanta-se Libério; surge, então, o liberalismo em Roma. E quando nós lemos Mateus 16.18, nos alegramos com as palavras de Jesus: “edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Portanto regozije-se, meu amado, minha amada, por você pertencer à igreja de Jesus. Dê glória a Deus. Eu fico alegre de pertencer à igreja de Jesus.
Qual a estatura de Cristo dentro de nós?
Eu tenho um certo pesar pelo tempo que fiquei embromado. Lembro-me de um panfleto da madre Teresa chamado “Embromação”. Não sei quantos leram isso. Existe um espírito de embromação que leva o crente a ficar paralisado, amorfo, sem se mexer, [raciocinando da seguinte maneira:] “Estou salvo mesmo, posso sentar e descansar que a salvação está garantida”. Isso não provém de Deus. Nós fomos salvos para salvar. Eu diria que o desafio da igreja hoje é ser ela mesma, é ser igreja. Não tem que inventar nada, é só seguir as ordenanças de Jesus. Temos tudo pronto. Somente quem não está pronto somos nós. Qual é o tamanho de Jesus dentro de você? Pergunte a si mesmo. Deus está pronto dentro de você?
Paulo diz aos efésios que nos éramos estrangeiros e peregrinos, mas o Senhor nos libertou, o Senhor nos salvou e agora nós estamos sendo preparados para ser habitação de Deus no Espírito. O apóstolo São João comparou o crescimento do crente com as diferentes estações da vida, usando as figuras de crianças, jovens e pais. Talvez a psicologia da época ignorasse a fase da adolescência. Com permissão, eu acrescentaria a adolescência. Mas eu insisto na pergunta: Deus está pronto em você? Eu não vou ficar triste, nem Jesus vai ficar triste se você responder negativamente. Nós estamos no aprendizado. Ou melhor, lançando mão da expressão que alguém usou anteriormente: nós precisamos continuar com a ‘desaprendizagem’ daquilo que nós constatamos que não procede de Deus. Nós temos que chegar ao zero; temos que nos sentir como pó, totalmente nus, porque nós não somos nada e temos que nos humilhar perante o Senhor e dizer: “Eis-me aqui, Senhor, faça de mim um vaso, eu quero ser teu servo”. Precisamos também daqueles conselhos todos que nós já ouvimos: comer a Palavra; alimentar-se dela; fortalecer-se nela; enraízá-la no interior… para que cresçamos.
Jesus é uma criança dentro de você, um adolescente, um jovem ou um adulto, já pai de filhos? Eu creio que uma das maiores alegrias de um cristão é se tornar pai de alguém que ele evangelizou, pai de alguém que, por seu intermédio, Jesus libertou. Pai ou mãe espiritual. Eu creio que os crentes ficam infrutíferos porque não têm tido essa experiência. Eu falei de criança. Pense um pouco na criança. O que é uma criança? Ela não tem noção de perigo, vai de um lado para o outro, corre, tem muita atividade, mas nenhuma noção do perigo. Não conhece muitas coisas, não tem o conceito exato sobre os objetos, confunde as coisas. É provável que muitos, senão a maioria, daqueles que formam grupos, sejam crianças em Cristo.
O adolescente tem as suas características também. Ele é inconstante, superativo, mas não é capaz de se firmar em alguma coisa séria. O jovem já ultrapassou essas fases, mas também tem algumas inconstâncias e está num período de aprendizagem. Talvez seja por isso que há recomendação bíblica para que a responsabilidade delegada ao jovem seja moderada. Algumas delas exigem certa maturidade. O cristão recém-conv ertido é inconstante, é entusiasmado como o jovem, mas tem muita ilusão. O Espírito Santo é sábio, por isso que a proposta é esta: “…a perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor” (Ef 4.13-16).
A unidade da fé através do compartilhamento é difícil. O Ray Stedman, autor de “Igreja – Corpo vivo de Cristo”, pastor da “Bible Church”, na Flórida, disse que amadurecimento, maturidade significa volta ao realismo sobre nós mesmos. Já ouvimos algo sobre isso neste dia, mas é difícil sermos reais em relação a nós mesmos. Descobrir o verdadeiro Ismael não é fácil. Talvez você pode pensar: “mas eu já tenho sido trabalhado”. No entanto, somente Deus conhece a estatura de Cristo a que quer nos levar.
Quando eu for um pai, da estatura que João fala, com a maturidade de pai adulto, espiritualmente falando, com certeza eu vou reproduzir filhos com facilidade. E os meus filhos espirituais vão crescer pensando da maneira como eu penso, porque o evangelho não é brincadeira e com Deus não se brinca. Vamos saber valorizar o sangue de Jesus derramado na cruz do Calvário pra nos libertar de verdade.
Amamos muito ainda a nossa imagem. Jesus também se amava, mas ele teve coragem de ir para a cruz para que nós fôssemos libertos. Nossas máscaras têm que cair. Se estivermos dispostos a sermos transparentes, se começarmos a declarar a Jesus: “Senhor, eu não valho nada, eu não mereci aquele sangue que o Senhor derramou na cruz por mim, eu não sou aquilo que penso de mim”, chegaremos a um ponto em que cairemos com a testa no chão, e as lágrimas se derramarão como se fossem gotas de sangue. Seremos quebrantados e chegaremos àquela posição que o Senhor quer, à da perfeita varonilidade, à dignidade de representá-lo diante das outras pessoas. Do contrário, sem que tenha passado por esta experiência, o cristão nunca terá condição de evangelizar, de falar de amor, de falar de perdão.
Um corpo bem ajustado e edificando-se a si mesmo
Lembremos-nos que o alvo estabelecido aqui em Efésios é o da perfeita varonilidade; [devemos ser] semelhantes a Cristo. Você entende isso? Jesus era perfeito como Deus e como homem. E ele possibilitou-nos não pecar; podemos não pecar. Deus, o Pai, falou com Jesus: “Adão deixou de cumprir o propósito, mas você, meu filho, vai dar o exemplo, vai subjugar o poder de Satanás e vai ser levantado como exemplo, como modelo. Nós vamos formar uma nova sociedade, uma nova humanidade, igualzinha a você”. Paulo entendeu isso. Romanos 8.29 diz que Jesus é o primogênito de toda essa criação vitoriosa. Então o corpo precisa estar ajustado e consolidado.
A igreja só vai funcionar como Deus quer quando ela estiver ajustada e consolidada, como um corpo. Como é que funciona o corpo? Há uma célula-mãe, uma célula viva, através da qual se forma o corpo. Estou falando no sentido natural, não precisa conhecer teologia para saber isso. A igreja existe por causa dessa célula viva, a imagem de Cristo. Paulo deixa isso muito claro: há um só corpo, a igreja, e Jesus é o cabeça. O corpo tem muitos membros, mas para funcionar, precisa da cooperação de todos eles. E esses membros devem estar bem ajustados. Eu tive um problema no aparelho digestivo, que ficou sem funcionar seis dias. Quase morri. Fiquei três dias na UTI, e nada funcionava. Tudo o que existe aqui dentro, pâncreas, fígado, intestino grosso, delgado, nada funcionava. Eu tinha dores terríveis, dores de morte. Pensei que daquela vez eu iria. Por duas vezes os médicos e os funcionários vieram com a maca e com a máquina pra me levar pra sala de cirurgia. Foi com a misericórdia de Deus e muita oração que me livrei da cirurgia. Graças a Deus que fui bem medicado, fui socorrido e estou bem. Tudo funcionando, mesmo com uma válvula mecânica metálica, duas safenas, uma coronária, estou bem, graças a Deus. Mas o corpo bem ajustado e consolidado, e com o auxílio de toda junta, cresce. Se não tiver bem ajustado, não cresce para edificação de si mesmo.
Há algumas orientações: crescer em tudo. Como o corpo vai crescer em tudo, todos os membros devem estar bem ajustados, bem consolidados. Pense nas virtudes que Cristo foi capaz de incorporar na sua vida: crescer em amor, crescer em perdão, crescer em gratidão, crescer em conhecimento do Senhor, crescer no conhecimento das coisas do céu… Teríamos que falar sobre os ministérios: profético, apostólico, pastoral, de mestre, evangelista. Todos eles ajudam o corpo a crescer. Mas vamos resumir dizendo: crescer em tudo, seguindo a verdade em amor. Será preciso também aceitar, com humildade, o ministério do outro em nosso favor. Por causa da nossa singularidade, nós às vezes rejeitamos a ministração do outro. Alguém lê um texto e uma outra pessoa pode pensar: “O que será que ele vai falar sobre isso? Eu já preguei tantas vezes sobre esse texto…”. E não se predispõe a ouvir a Palavra. É por isso que o corpo tem que estar ajustado e consolidado, e humilhado e disponível, disposto a aceitar a ministração do irmão.
O Haroldo disse que nós não podemos nos aprofundar no conhecimento de Cristo se não tivermos o outro. Salomão disse que a obra de dois tem maior recompensa, e o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade. Esse é o grande desafio hoje, meu, seu e da igreja: nos ajustarmos ao corpo, estarmos dispostos a perdoar e a sermos perdoados.
Graças a Deus desaprendi mais um pouco. Estou querendo ouvir o que Deus tem pra me falar. Eu espero que essa mesma disposição esteja no seu coração. Eu sou muito feliz por ser cristão. Estou nessa militância desde que eu me entendo por gente. Como eu disse, me considero um homem de igreja, porém agora não mais um homem da estrutura. Mas eu gosto da igreja. A igreja é uma bênção, é a comunhão dos irmãos. Quando eu falo em igreja, penso em mim, em você, em todos aqueles que tiveram o privilégio de serem salvos por Cristo, mesmo os que ainda não entendem muito de Cristo, porque Cristo é rico, poderosamente rico. Temos muita coisa para receber de Jesus, mas nós somos um pouco preguiçosos.
Temos que, como diz Paulo, com diligência, envidar todos os esforços para receber mais, e mais, e mais de Cristo. Tem uma canção que a gente canta; ela fala sobre isso: “… mais, mais de Cristo, mais, mais de Cristo, mais do seu puro e santo amor, mais de ti mesmo, ó salvador…”. Eu gostaria que nós cantássemos isso sempre. As músicas que foram cantadas aqui me deixam com a certeza de que vocês estão no caminho certo da adoração: “… usa-me da maneira que te agrada…”. É de Deus! “… é vida que brota da vida, é fruto que cresce do amor, é vida que vence a morte, é vida que vem do Senhor…”. Eu nunca vou ser pai espiritual se não tiver vida que vem de Jesus. Meu coração tem que ferver com a vida que vem de Jesus, tem que se alegrar, tem que estar jubilando com Jesus pra eu poder falar com alguém e inspirar nessa pessoa o desejo de participar da mesma alegria. “… minha missão Senhor é te conhecer; foi pra isso que eu nasci e pra isso vou viver…”. Não há outro motivo, irmãos, não há outro motivo para viver se não for para Jesus, porque o nosso tempo é tão pequeno aqui na terra em relação à eternidade. Ele voa, é um piscar de olhos. Se nós perdermos Jesus na vida, teremos perdido tudo que a vida tinha para nos oferecer, tudo o que Deus tinha para nos oferecer. Podemos estar certos de que Deus nos ama. Não precisamos ter modéstia para isso. Podemos afirmar: “Deus me ama, Deus me ama, Deus me ama”. Repita isso todos os dias: “Deus me ama”. Coloque a mão no ombro do seu irmão e diga: “Esteja certo: Deus te ama, e ama muito, e espera a sua colaboração na redenção das almas”. Glória a Deus!
Ismael de Oliveira, 75 anos, é casado com Eide e tem quatro filhos: Ismeide, Márcia, Marcos e Ismael Júnior. Reside em São José dos Campos SP, onde serve como pastor na Igreja Batista do Povo. É autor dos livros: “Problemas da Renovação Carismática” e “Trabalhando o caráter”.