Certa noite, em meu escritório, eu estava deprimido pelo que vi naquela conferência (ver parte 1). Não podia me abalar, mas a maior parte das pessoas eram de minha congregação e estavam espiritualmente miseráveis. Algo precisava ser feito, mas o quê? Eu também estava miserável e abatido como todos eles.
Pensei que fosse só uma questão de tempo e que me tornaria igual aos outros pastores que eu conhecia. Temia isto mais que tudo. Ia começar a pedir dinheiro e suportar a admiração de todos? Estaria contra os bêbados e fumantes? Falaria na versão King James, teria um julgamento ofensivo e um vício secreto por pornografia?
Eu conhecia a Bíblia mais que qualquer outra pessoa. Memorizei muitas passagens e sabia o que Deus poderia fazer na maior parte das situações. Contudo, resolvi usar todo o meu tempo disponível para estar pessoalmente com cada membro da congregação por uma hora. O objetivo era entrar no coração e mente de cada um, conhecer a história deles, antes de pregar qualquer coisa. Não fiz perguntas para tentar localizar o problema. Simplesmente sentei com eles, de coração aberto, para ouvi-los. Mas algo tão maravilhoso e lindo começou a acontecer, e comecei a ver tudo com absoluta clareza. Tinha certeza de que era uma das primeiras pessoas a receber aquela revelação. Isto mudou inteiramente minha teologia, e percebi que era o começo do fim de minha carreira ministerial. E o que aconteceu? Eu fiquei completamente apaixonado por aquelas pessoas. Quando um deles ligava em meu escritório, meu coração saltava no peito, e ficava radiante quando entravam em minha sala. Eles se tornaram a razão de meu viver, a única coisa com que me importaria.
Em toda a minha vida, eu amei a mensagem do evangelho mais que qualquer coisa no mundo, mais até que as pessoas. Depois que passei a amar as pessoas, percebi que os pregadores colocam a mensagem à frente das pessoas, o que transformou a pregação em algo repulsivo e terrível, que fere em vez de ajudar. Mas quando finalmente amei mais as pessoas que a mensagem, percebi que o único caminho para conhecer o evangelho puro e sem adulteração é por meio de amar as pessoas para as quais a mensagem é destinada. Se amar as pessoas com todo o seu ser, você consegue entrar no coração delas e sente cada parte da alma delas como se fosse a sua própria alma. Quando algo é falado, você consegue ver com os olhos delas e entender na perspectiva delas. O verdadeiro amor elimina a distância e permite que seu coração fique fortemente entrelaçado com o da outra pessoa.
Logo após perceber isto, lembrei-me de uma cerimônia de casamento de que participei anos atrás. A pregação foi sobre 1 Coríntios 13, o capítulo do amor:
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba (1 Co 13.4-8).
Quando é lido num casamento, esses versos soam românticos, mas duvido que alguém no auditório acredite em uma única palavra desta passagem. Neste mesmo casamento, eu vi um cartaz que dizia “Deus é amor”. Se isto é verdade, pensei, toda a religião cristã está errada. Pelo menos tudo o que cresci ouvindo. Quase dez anos depois, estava eu de volta àquela mensagem de casamento e cartaz, e finalmente eles fizeram sentido para mim. Percebi que estávamos sendo enganados sobre Deus, e pela primeira vez em minha vida começava a compreender a verdade e como tínhamos nos desviado dela.
O que aconteceu?
Descobri que o povo instintivamente sabe que Deus é amor, e nós definimos Deus pelo entendimento que temos do amor. Infelizmente o verdadeiro significado de amor foi alterado e redefinido também o entendimento de toda uma geração sobre Deus. A passagem bíblica utilizada no casamento contém 15 afirmações sobre o amor e é uma descrição do caráter e personalidade de Deus. Alguns até substituem a palavra “amor” por “Deus” em 1 Coríntios 13. Podemos concluir que o que cremos em nossos corações sobre amor é exatamente o que cremos acerca de Deus. Mas o que cremos sobre o amor? O problema é que o mundo fala sobre amor de uma maneira totalmente oposta ao descrito nesta passagem.
Ensinaram-nos que o amor não é paciente. Na verdade, achamos que quando é realmente “amor”, não precisamos ir com calma nos relacionamentos. Também não cremos que o amor é bondoso, pois está acompanhado de dor e feridas. Dizer que “o amor não é egoísta” é o oposto de tudo o que fomos levados a crer. O amor sempre fala a verdade, mas as pessoas que sempre falam a verdade são vistas como bobas e estúpidas. O amor persevera; mas e quanto à taxa tão alta de divórcios? O amor jamais acaba; mas nada dura para sempre, é o que somos levados a crer. O que quero mostrar é que o mundo nos convence que o amor é exatamente o oposto do descrito nesta passagem. Agora eu tenho uma revelação para você: não foi o amor que o feriu. O que o feriu foi o oposto do amor, mas em seu coração você pensa que foi o amor. Não se engane: o amor nunca fere você. O que o feriu foi uma definição de amor enganosa que você engoliu e na qual creu.
Se a Bíblia diz que Deus é amor, e tudo o que está listado nesses versos é a descrição do caráter e personalidade de Deus, então de quem é a descrição do oposto de tudo aquilo? Do diabo.
Por que Jesus disse aos fariseus e religiosos: “Vocês pertencem ao seu pai, que é o diabo”? Porque os mestres religiosos fizeram uma imagem de Deus mais parecida com Satanás. Eles tornaram impossível para as pessoas manterem um relacionamento com Deus simplesmente porque elas ficavam aterrorizadas em relação a Ele. E hoje não é diferente.
Quando os aviões derrubaram as duas torres, matando milhares de pessoas, vários líderes cristãos apareceram na TV dizendo que Deus estava julgando a América por seus muitos pecados. No começo da epidemia da AIDS, era comum ouvir os pastores falarem que era uma praga para punir os homossexuais. Muitas pessoas pensam assim ainda hoje. Tudo de ruim que acontece no mundo é atribuído a Deus. Se perdemos o emprego, se sofremos um ataque cardíaco, se morre alguém querido, Deus foi o responsável. Se nossa empresa faliu, Deus nos puniu por algo que fizemos. Tudo de terrível que acontece vai para a conta de Deus. Nós verdadeiramente cremos que Deus tem o caráter e personalidade do diabo. É por isso que os cristãos não leem a Bíblia e não oram mais que cinco minutos por semana. Quem quer falar com ele? Ele é terrível! Tirou a proteção de sobre nós e deixa coisas ruins acontecerem.
Falar que temos um compromisso com Cristo é a prova de que não o amamos. O compromisso é a forma de nos forçar a fazer coisas que não queremos. Amor não é isso. Se não houvesse a promessa de ir para o céu no final da vida, muitos cristãos iriam preferir ficar de fora da salvação. A religião deu a eles um atestado de insanidade. Ela fez com que muitas pessoas trocassem o bom senso por uma variedade de ensinamentos confusos e misturados, sem o mínimo de razão. Quase tudo o que fazemos na religião é movido pelo medo. Damos oferta porque se não o fizermos, não seremos abençoados. Damos o nosso melhor para testemunhar do maravilhoso e amoroso Jesus Cristo, quando em nossos corações não cremos em nenhuma palavra que estamos dizendo. Nossas orações se resumiram no “perdoa-me” e “sinto muito” no fim do dia.
Já imaginou se eu falasse para a minha esposa que a amo e jamais vou deixá-la, mas que, se ela algum dia me trair, vou torturá-la por toda a eternidade? Penso que ela nunca me trairia, mas também não ia querer ficar perto de mim. Ela faria tudo para manter o relacionamento, mas eu jamais teria o seu coração. Isto é exatamente aquilo em que muitos cristãos acreditam a respeito do Pai.
Quando vejo alguns cristãos com megafones na parada gay, gritando que estes vão para o inferno, ou com cartazes com mensagens odiosas e de condenação diante das clínicas de aborto, penso que isto é completamente natural. Eles estão conformados com a imagem do pai deles. Se crermos que Deus tem o temperamento e características de Satanás, vamos nos transformar nesta imagem. Se você olhar por este ângulo, muitas coisas passam a fazer sentido.
A religião está nos matando. Os cristãos são como um carro velho que vive quebrando e de tempo em tempo precisa de uma revisão. A palavra reavivamento não existe na Bíblia, e nunca foi intenção de Deus criar uma religião que, de tempo em tempo, precisasse de um choque elétrico para voltar à vida.
O problema é que a maioria das pessoas não tem coragem de testar seu sistema de crenças à luz do amor. Sentem-se como um caixa de uma loja verificando se uma nota é verdadeira, como se estivessem duvidando de Deus e, assim, desonrando-o. Questionar os ensinamentos cristãos em nenhum momento é não confiar em Deus. Ele é a luz! Se você ama as pessoas, vai perceber que muitas coisas que ouvimos no sermão de domingo não passam pelo teste da luz.
Creio que fomos induzidos a acreditar em uma mentira acerca do amor. Mas também creio que no fundo do nosso coração existe um entendimento do que de fato é o amor.
Imagine eu dizendo ao meu filho de nove anos que jamais dividirei minha glória com ele, e que se ficar me desobedecendo, vou jogar gasolina nele e atear-lhe fogo? E que se não me der 10% de tudo o que ganhar, eu vou tirar minha proteção de sobre ele, permitindo que o fogo do inferno o alcance? Ou falando para minhas filhas que estão na terra para serem minhas escravas? E se eu falasse aos meus filhos que escrevi um livro sobre mim, e ao menos que lessem diariamente, jamais me conheceriam? Que tipo de pai vira as costas para seu filho no momento em que ele comete um erro?
Venha comigo numa viagem até o coração de Deus. Quero levar você também para dentro do seu próprio coração e mostrar muitas coisas que já existem lá. Se estiver preparado, abra seu coração e continue a leitura.
[Continua na próxima edição]
Traduzido e adaptado por Ezequiel Netto