Esta seção, ora inaugurada, trará a cada edição um resumo de um capítulo do livro “The Misunderstood God: The Lies Religion Tells About God” (O Deus mal compreendido: as mentiras que a religião conta sobre Deus), de Darin Hufford, publicado nos EUA em 2009 por Windblown Media (sem tradução ainda no Brasil). Clique aqui para os outros resumos.
“Se pensa que existe algo bom em você, é melhor se segurar! Deus vai liquidá-lo e expor a verdade sobre quão mau você realmente é.”
– Amém – a multidão ovacionava.
“Ele não vai compartilhar sua glória com nenhum outro”.
– Prega! – grita uma voz na multidão.
“Deus é Deus, e quanto mais rápido compreender isto, melhor pra você. Se precisar tirar um de seus filhos para conseguir sua atenção, ele fará isso”.
– É verdade – grita outra voz.
Juntamente com o cheiro, o vitral, os bancos de madeira, esta foi a imagem da velha igreja que ficou cauterizada em minha mente.
Eu odiava ir à casa de Deus. Minha mãe sempre me mandava ficar calado, mesmo quando eu não estava fazendo barulho algum. Este Deus não era alguém com quem eu queria ter amizade, mas infelizmente eu tinha que amá-lo, pois era a única forma de ir para o céu. Eu tentava fazer com que Deus pensasse que eu gostava dele e que até lhe dava valor. E eu pensava: o inferno seria tão ruim mesmo? Era realmente quente, como diziam? Se Deus quisesse realmente saber se eu o amava de verdade, por que não criou dois paraísos para ver se eu escolheria ficar no que ele estivesse?
Para fazer minha mãe feliz, fiz a oração do pecador com sete anos e me batizei com oito, como muitos garotos da mesma idade. Descobri que “Jesus” era a resposta para muitas perguntas. Quando o pastor me perguntou se eu amava a Deus, sem hesitação respondi “Jesus!”, e todo o auditório se alegrou. Disseram-me que eu seria uma nova pessoa após aquele batismo, mas eu me sentia o mesmo. A pergunta “Você ama a Deus?” ficava assombrando minha cabeça, e minha resposta era “não”. Realmente eu não gostava dele, e fazia tudo aquilo para não ir para o inferno. Ficava admirado pelas inúmeras vezes em que ouvi os adultos dizendo que amavam a Deus. Mas o que tinha nele para ser amado? Ele nunca estava satisfeito, queria toda a glória, gostava de nos rebaixar, matava nossos filhos, queria todo nosso dinheiro e nos lançaria no fogo. O que tinha nele para ser amado? Era óbvio para mim que Deus precisava de uma completa transformação de sua personalidade se ele realmente quisesse pessoas que o amassem e tivessem prazer de estar com ele.
Deus tinha um comportamento muito parecido com o do pai de um amigo meu, que era bipolar e tinha problemas com alcoolismo. Numa semana o pregador nos dizia chorando: “Vocês não sabem o quanto Deus os ama?” Na outra semana já dizia: “Ninguém vai escapar da ira de Deus!” Esse Deus precisava ser internado em uma clínica ou havia algo terrivelmente errado com nosso entendimento sobre ele.
Fiz tudo o que me ensinaram para conhecer a Deus: a oração do pecador, passei por todos os obstáculos, segui as regras, mas mantinha um sentimento de que faltava alguma coisa, de que estava sempre um passo atrás. Com 25 anos eu era o cristão perfeito. Lia minha Bíblia diariamente por horas, gastei incontáveis horas em oração, clamando por ele, fui fielmente a todos os cultos, gastei milhares de dólares em ofertas e estudei teologia. Eventualmente era contratado como pastor de alguma megaigreja. Preguei em conferências, igrejas, seminários, em todo lugar. Eu era realmente bom na pregação do evangelho. Apesar disso tudo, estava vazio e infeliz.
O ponto de virada
Um mês após me tornar pastor, eu tive minha própria conferência em Phoenix, Arizona. O auditório estava lotado com pessoas de todas as partes do país. Eu aguardava atrás das cortinas, onde organizava meus pensamentos, assistia ao povo e orava. Muitas vezes adorava, só para passar o tempo. Observando a audiência, percebi uma mistura de expectativa, falta de esperança e desapontamento. Talvez 10% de expectativa e 90% de desapontamento. O desapontamento era profundo. E isto eu conhecia muito bem, pois o via toda manhã, em mim mesmo, quando olhava o espelho. A aparência era a daqueles que aderiram a uma religião que não funcionava. Estavam ali para ver o que estava errado, que parte estava faltando, ou o que não conseguiram interpretar no manual. Se eles tivessem sorte, poderiam encontrar a peça misteriosa, que conectaria tudo. E a história caminharia para mais uma conferência não muito diferente das outras de que participaram. Este maravilhoso povo estava sentado ali, com seus crachás e programação das atividades, com as mãos levantadas, demonstrando fidelidade, cristãos positivos. No coração, contudo, assistiam ceticamente a mais um infomercial cristão que não atenderia aos seus apelos exagerados.
O que menos eles precisavam era de outro sermão com promessas vazias e fórmulas rápidas. Eles já haviam tentado tudo o que ouviram e estavam vazios. Entraram no mundo religioso da autoaversão e, em vez de questionarem o sistema, assumiram a culpa pela decadência. Após a adoração, fiz uma pergunta que marcou o fim de meu ministério e criou uma bagunça em muitas vidas: “Quantos aqui têm medo do arrebatamento?” A segunda pergunta foi: “Quantos se sentem miseráveis na maior parte de sua vida cristã?” Meu coração quase parou quando a maioria levantou a mão, pois era um grupo de pastores, diáconos e pessoas ativas na igreja. Todo cristão presente admitiu que tinha medo da volta de Jesus e uma vida cristã miserável, confirmando minhas suspeitas de infância sobre a religião na qual cresci. A conferência caminhou para uma série de questões que nos fariam sentir pagãos se as expressássemos em voz alta. Nossa conclusão naqueles dias foi: estamos enganados sobre Deus, sobre quem e como ele é, o que quer, o que espera de nós, seu propósito, seus desejos e, principalmente, seu amor por nós.
Estamos enganados sobre Deus
O fato assustador é que o verdadeiro coração de Deus é desconhecido pelas pessoas que dizem que o conhecem melhor. Percorremos ponto por ponto de nossa teologia enviesada e descobrimos que tudo o que falávamos anteriormente não acrescentava nada e não poderia ser verdadeiro, pois era contraditório em cada ponto. Não foi um momento de alegria e nos sentíamos como tolos, como uma mulher quando descobre que seu marido a estava traindo por anos, com sua melhor amiga.
Suponho que cada cristão faça sua parte em viver mantendo mentiras encobertas. Mentimos aos outros e para nós mesmos acerca de nossa fé, vitória e sentimentos. Aprendemos o dialeto da religião, seguimos as regras e guardamos nossos questionamentos para nós mesmos, pois questionar pode parecer rebelião. Temos um estoque de respostas, como “você precisa entregar isso a Deus”, “você precisa estar na Palavra”, “precisa ter mais tempo de oração”. São respostas para fazer calar a pessoa quando somos confrontados em questões para as quais não temos a solução.
Não estou dizendo que os líderes de nossas igrejas se reúnem secretamente planejando essas mentiras para sufocar nossa espiritualidade. Estou dizendo que, ao longo dos anos, nos desviamos da verdade e engolimos mentiras. Vamos citar apenas a Segunda Vinda de Cristo, sobre cujo tempo milhares de autores e pregadores tentam fazer predições. Digo que Jesus não voltará tão cedo, pois ele vem para uma noiva alegre, ao som de trombetas, e não para uma escondida dentro de um armário, em absoluto terror sobre sua vinda. O dia que deveria ser o mais maravilhoso para nós é justamente o que a maior parte dos cristãos tem medo.
Posso ouvir seis sermões seguidos na TV, e cada um vai contradizer o outro. Um evangelista vem em nossa igreja e prega um sermão dizendo que Deus jamais vai nos abandonar, mas 60 segundos depois insinua que ele pode fazer isso. Ouvimos ensinamentos sobre as promessas de Deus e que seus dons são gratuitos, seguidos por uma lista de coisas que precisamos fazer para obtê-los. Existem perto de 30 ou 40 mil denominações cristãs, e cada uma em contradição com a outra, de alguma forma. Por causa disso, alguém poderia dizer que é quase impossível conhecer a Deus a partir do que é ensinado nas igrejas. As promessas e testemunhos de nossa religião se parecem com aqueles contos de nossas avós, que a cada geração vão ficando um pouco mais embelezados e exagerados a ponto de não terem nenhuma semelhança com a verdade, e falam de um Deus que nunca existiu. Acredito que estamos no primeiro momento da história em que as pessoas que estão fora da igreja demonstram mais sinais de conhecer a Deus do que as que estão dentro.
Relacionamento com Deus nesta geração é totalmente compreendido como leitura da Bíblia. Trocamos Deus pela Bíblia e se não a lermos exaustivamente e não a compreendermos, nos sentimos perdidos, não espirituais e a milhas de distância de Deus. O coração de Deus é entristecido por seus filhos não conhecerem quem ele realmente é. Não fica irado e nem vingativo, mas simplesmente triste. Imagine alguém pensar que conhece você melhor que qualquer outra pessoa no mundo e nem mesmo sabe seu nome. É isso o que ele sente por esta geração.
Em busca da verdade
Ouvi que a definição de insanidade é quando a pessoa faz a mesma coisa repetidamente esperando obter resultados diferentes. Mentimos sobre os resultados e mesmo assim achamos que alguma coisa vai acontecer em seguida. As coisas que cremos e pregamos ao mundo não funcionam e continuamos agindo e falando como se fossem verdade. Dizimamos os 10% e, quando vem a recessão, falimos como qualquer pessoa sem religião. Dizemos que “a família que ora unida permanece unida” e, no entanto, as pesquisas apontam que a taxa de divórcio nas igrejas é maior que no resto do mundo. Dizemos que temos poder, paz, alegria, entendimento espiritual, mas existe um grande número de pessoas nas igrejas que tomam remédios para depressão, ansiedade e uma série de problemas emocionais e de comportamento.
Meu desejo não é trazer condenação, mas liberdade ao corpo de Cristo. A resposta não está em orar por poder ou fogo dos céus, mas simplesmente pela verdade. Este livro é uma busca pela verdade, que não pode contradizer a si mesma nem confundir nosso entendimento sobre Deus, mas revelar quem ele é, na simplicidade. Imagino que se um pregador trouxer uma nova e profunda verdade sobre Deus, que você ainda não tenha considerado em seu coração, isso provavelmente não será verdade, pois Jesus disse que a verdade foi revelada aos pequeninos e escondida dos sábios e entendidos. Nossa geração perdeu isso totalmente. Infelizmente muitas pessoas preferem os pensamentos profundos e imaginações extravagantes a algo simples e óbvio sobre Deus. A verdade pode desapontar essas pessoas, da mesma forma que Jesus parecia superficial e frustrou os fariseus de sua época.
Meu objetivo não é impressionar você com algo profundo, mas fazê-lo rir bem alto enquanto lê este livro pensando: “Está certo…, como eu poderia perder isto?” Da mesma forma como você se sente quando revira a casa inteira à procura de um lápis e ele estava o tempo todo diante de seus olhos.
Naquela conferência descobrimos que as coisas que falávamos sobre Deus não acrescentavam nada, que nossa percepção sobre ele foi completamente distorcida pela nossa educação religiosa e que alguma coisa precisava acontecer. Mas o quê? [Continua na próxima edição]
Traduzido e adaptado por Ezequiel Netto
Não concordo…. Deus é bom e ele nunca me abandona ele me da saúde e paz no meu coração nas oras de aflicões…a palavra é Deus só quem não conhece a palavra que não conhece a Deus e nós somos imagem e semelhança de Deus e se nós amarmos nossos irmãos estamos amando a Deus pois Deus habita em nós. Deus abençõe você