Como é bom a gente ter a oportunidade de ouvir vários irmãos diferentes e meditar, refletir… Graças a Deus por este dia! Vamos guardando no coração. Parece que isso estava numa música hoje de manhã: “guardei a tua palavra no coração para não pecar contra ti”. Eu estava lendo um pedaço do Salmo 119 hoje de manhã – porque eu levantei cedo, mas não tão cedo para ler todo o salmo – e tinha visto esta parte e achei interessante: “Guardei a tua palavra no coração pra não pecar contra ti”. A palavra de Deus é rica, tremenda, maravilhosa. Eu fico sempre com a lembrança de minha mãe, vários anos antes de morrer, quando ela pensava que ia morrer e não morreu. Aliás, quando morreu, ela não estava tão debilitada e tão fraca como nessa época, uns 5 ou 6 anos antes. Perto de sua cama, na parede, ela tinha textos bíblicos escritos à mão, que decorava. Passando mal, fraca de tudo e decorando os textos, decorando a palavra de Deus. Então eu guardo com bastante carinho esta valorização da palavra de Deus.
Eu e o Paulo Manzini vimos um pedaço do Globo Repórter ontem à noite: os velhinhos fazendo musculação, não para desenvolver os músculos, mas para oxigenar o sangue e para o cérebro manter-se com vigor. Então eu me lembro de minha mãe: até o fim, ela se manteve muito afiada, muito atenta, muito alerta. A palavra de Deus guardada em nossos corações produz efeitos colaterais tremendos, traz saúde para os ossos, traz saúde para a vida. A palavra de Deus é herança que ele deixou pra nós. O Salmo 119 é tremendo. Todo versículo fala sobre o valor da palavra de Deus. E a bíblia diz, em 2 Tm 4.1-4; 1 Tm 1.1-7 e em outras passagens também, que nos últimos dias as pessoas não terão prazer em ouvir a palavra de Deus. E nós já estamos vivendo esses dias. Nós estamos vivendo em dias em que as igrejas estão cheias de cristãos que passam horas em reuniões, e não têm prazer na palavra de Deus, não ouvem a palavra de Deus. É possível ficar 20 anos na igreja e não saber por que Jesus morreu. Só saber que ele morreu, mas não saber por quê. Recentemente, um irmão, amigo nosso, da igreja do CCC, em Jundiaí, o pastor Marion, que também é professor universitário, estava no saguão de um aeroporto, num sábado pela manhã, aguardando o momento de seu vôo e ficou, durante três horas, assistindo aos programas de vários televangelistas brasileiros. Um programa atrás do outro e não ouviu nada sobre Jesus.
Nós estamos vivendo em dias em que as pessoas estão desenvolvendo uma doença chamada “coceira nos ouvidos”. Elas são atraídas a lugares onde possam escutar coisas agradáveis. E não vão querer ouvir a sã doutrina. A sã doutrina, como nós ouvimos de manhã, requer de nós mudanças para que possamos nos relacionar com Jesus de verdade. Isso é muito perigoso, muito caro, muito radical. E as pessoas não querem ouvir isso. Nós conhecemos uma igreja muito grande lá em Americana, com várias congregações espalhadas pelos bairros, cujos membros se deslocam de seus bairros para o centro para participarem da congregação central, uma igreja enorme de 1,5 mil, 2 mil pessoas. O motivo? Não querem muito compromisso. Elas querem esse evangelho de multidão, de show, ou coisa parecida. Nós estamos em dias em que estas coisas profetizadas estão vindo para o mundo, e precisamos estar alerta pra isso.
Quando “este” evangelho for pregado, então virá o fim
Meu tema é “Restaurando o evangelho puro”. Como o Gérson Lima falou, a definição do que é igreja em qualquer época, inclusive em nossos dias, é a comunhão das pessoas que vivem pela vida de Jesus. A igreja nada mais é do que a comunhão das pessoas que creram no evangelho. Então para saber que tipo de igreja você vai ter, você precisa saber primeiro que tipo de evangelho as pessoas ouviram e em que tipo de evangelho creram. Eu tenho ministrado n número de vezes um curso que se chama “O Evangelho profético”. O maior sinal da volta de Cristo é quando este evangelho do reino for pregado em testemunho a todas as nações; então virá o fim. É o único sinal. Pode haver terremoto, fome, multiplicação do pecado, mas nunca se diz que, depois dessas coisas, “então virá o fim”. Segundo Jesus, o fim virá somente quando “este” evangelho do reino for pregado em testemunho a todas as nações.
Então eu preciso crer que Deus está planejando uma reforma radical do evangelho, porque este evangelho do reino significa o senhorio de Cristo sobre a vida das pessoas hoje para que elas se tornem carta de Cristo ao mundo. Ninguém vai poder ir pro inferno e dizer assim pra Deus: “Eu não fui avisado, eu não sabia. Aquele povo que tinha seu nome vivia constantemente se dividindo, brigando. Eu não vi nada de interessante neles. Então pode mandar pro inferno, mas o Senhor não tem razão não. Eu não deveria ir”. Esse evangelho do reino será pregado em testemunho para que ninguém encontre qualquer desculpa. Todos terão chance de ver o evangelho do reino realmente pregado com poder, com autenticidade. Tempos atrás isso soava um pouco estranho, hoje não é tanto. Em todo o lugar aonde eu vou, as pessoas estão concordando com o fato de que o evangelho perdeu o seu poder e precisa ser restaurado.
Eu sempre comparo o espanto das pessoas que hoje entram em contato com o evangelho com aquela cara assustada do mafioso depois de constatar que a maleta preta que lhe foi entregue, supostamente cheia de dólares, não carrega senão jornal picado. A pessoa levanta a mão, aceita Jesus e fica alegre, pois recebeu o evangelho. Daí a pouco, pergunta desconfiada: “É só isso?”. Aparece o cristão convertido há mais tempo e fala pra ela: “É, é isso mesmo. Só vai melhorar depois que morrer”. O evangelho é algo que perdeu a parte nova, de boas notícias, e perdeu também a parte boa. Então que parte do evangelho sobrou? Sobrou a malinha preta, que você carrega, mas não abre, com medo do que pode aparecer.
Existe um consenso de que o evangelho precisa ser restaurado, entretanto hoje há muitas vozes e alternativas – quase uma Babilônia sobre como fazê-lo. Uns dizem: “Vamos reunir só nas casas. Tirem as pessoas dos templos e vamos pôr nas casas”. Outros afirmam: “O evangelho do reino é o discipulado. Quem é o seu discipulador? Quem vai discipular você?”.
Há, ainda, outros com outra solução: “Esquece o V.T.; não precisa mais dele; agora é só o novo”. É uma balbúrdia. O que eu faço? E quando você tem muita coisa pra fazer, então acaba não fazendo nada, ficando estacionado e parado no mesmo lugar.
A igreja depende do evangelho em que as pessoas crêem. Não adianta você pegar os mesmos crentes que estão numa jarrinha comprida e pôr numa jarrinha gordinha. Não adianta colocá-los numa panela de barro ou numa panela de inox. Não adianta tirar do templo e pôr nas casas, tirar das casas e pôr embaixo da mangueira. Eu estava comentando com algumas pessoas aqui que parece que a religiosidade vai mais rápido que o evangelho. Na África, o pessoal tem muito pouco entendimento, mas aquele costume do domingo, daquela coisa religiosa do pastor e aqueles hábitos nefastos nossos eles já têm. Parece que vai mais rápido que o evangelho verdadeiro. Num lugar onde não há nada, chega primeiro a religião e só depois alguma coisa que de verdadeiro valor.
A igreja não vai ser restaurada começando pela igreja, pela maneira como ela se reúne, pela maneira como ela age. Criticar o sistema, malhar a Babilônia não resolve nada. Então restaurar a igreja não começa com a igreja, começa com o evangelho. O evangelho é o poder de Deus pra salvação de todo aquele que crê, e a igreja é o resultado das pessoas que creram nesse evangelho. Esse tipo de igreja é que vai ser levantado.
Muitas reuniões de Atos 15 nos últimos dias
Embora haja quase um consenso sobre isso, há também muita confusão. No livro de Atos, no capítulo 15, nós encontramos a 1a reunião geral da liderança da igreja, que as pessoas gostam de chamar de concílio por causa de coisas posteriores. Mas era a 1a reunião da liderança sobre um problema sério que iria dividir a igreja. Como conseguiram ouvir a voz do Espírito Santo e separar os costumes culturais do que era essencial (Jesus Cristo e a fé nele que traz o batismo no Espírito Santo), mantiveram a unidade mesmo com diversidade. Irmãos, cultura é uma coisa que não dá pra viver sem. Se você tirar uma cultura, daqui cinco dias tem outra no lugar. Jesus não veio destruir cultura, ele veio trazer vida, e a vida vai criando novas formas, acaba formando novas culturas, mas cultura em si não é uma coisa ruim. Portanto o negócio não é atacar cultura, mas comer de Jesus, beber de Jesus e permitir que isso crie mudanças, crie transformações.
Aos judeus conv ertidos, que desde criancinhas guardav am o sábado, eram circuncidados, não comiam determinadas comidas, dizia-se que continuassem como tal, não precisavam mudar. E tampouco se exigia uma conversão às práticas judaicas dos que as enxergavam como costumes estranhos ao seu modo de viver. Que apenas se guardassem de algumas práticas (coisas sacrificadas a ídolos, relações sexuais ilícitas, carne sufocada e sangue). O importante é que continuassem firmes em Cristo.
Hoje, irmãos, nós não precisamos de uma reunião de Atos 15, mas de centenas delas. Porque hoje não temos que manter a unidade, mas reconquistá-la. Os primeiros cristãos partiram da visitação pessoal de Jesus Cristo. Era bem mais fácil pra ter unidade. Hoje a gente parte de mil direções diferentes sobre a palavra, sobre as interpretações da palavra, mas é um só Senhor, uma só fé, um só batismo. É possível essa unidade. Em Cristo somos um. E na terra podemos ser um também por meio de Cristo, mas pra isso é preciso muita comunhão para separar os elementos não essenciais dos essenciais, para achar o que realmente é vida, respeitando e valorizando as diferenças uns dos outros.
Em nosso corpo, temos músculos e juntas que, num mesmo movimento, realizam operações contrárias. Num simples levantar de braço, por exemplo, há músculos que precisam se retesar enquanto outros, por sua vez, precisam se relaxar. Há muitas pressões dentro da igreja: tem gente que só quer evangelizar, tem gente que só quer orar, só quer isso, aquilo… São preciosos, maravilhosos, desde que não imponham a sua ênfase como se fosse essencial para toda a igreja. Cada celulazinha do corpo tem sua função e seu formato. Por exemplo, a célula do nervo é compridinha; a célula do fígado é totalmente diferente. Têm formatos diferentes, cada qual é especializada numa coisa, mas todas têm algo em comum: no núcleo, possuem o mesmo DNA e dependem de todas as outras por meio da corrente sangüínea. Todas dependem de todas. O nervo não precisa só de outro nervo. Ele precisa do fígado, do intestino, do pé, do olho. Eu, pra ser sadio, não preciso só da minha ênfase. Eu preciso da ênfase de todos. Aliás, a minha ênfase me mata. Já pensou? Se a célula do fígado ficar só com a bílis sobre si ela morre. Ainda bem que a bílis não fica só no fígado, ela vai embora logo. Então pra não matarmos uns aos outros, precisamos ser bastante banhados pelo sangue pra tirar todo aquele excesso que, no fim, pros outros, faz bem, e receber bastante dos outros que, pra gente, faz bem também.
Trocando em miúdos o que Gérson falou, vimos que a culpa da igreja é a culpa da liderança. Se a liderança é institucional, a igreja vai ser institucional. Se a liderança estiver no Espírito, a igreja vai estar no Espírito. Então, pelo menos, achamos o culpado. E agora, culpada, a liderança precisa se tocar. É preciso orar pra Deus dar “sitocômetro” pra cada líder da igreja. O táxi tem o taxímetro; o carro, o odômetro; a casa, o termômetro; e o líder da igreja precisa de um “sitocômetro”, porque normalmente não tem “sitocômetro” de jeito nenhum, e as igrejas sofrem. “Sitocômetro” significa: “eu não sei tudo, aliás eu não sei quase nada, e eu preciso dos outros”.
Jesus não prometeu estar dentro, ele prometeu estar entre: “onde estiverem 2 ou 3, eu estarei entre eles”. Eu preciso urgentemente achar um outro pra ficar entre nós pra gente conseguir… Nestes dias eu estou aconselhando as pessoas do seguinte modo: a perseguição vem por aí e se você for preso, qual a primeira coisa que você tem que fazer? Procurar um outro infeliz. Como é que você vai ter Jesus se ele prometeu estar entre? Tem que achar um outro irmão em algum lugar na prisão. Se você está na cadeia, aí é terrível, mas com Jesus vai tudo bem. Então procura um outro irmão lá. E se você não achar, se você for o primeiro, premiado? Converte qualquer um que seja, porque sem o outro eu não consigo ter Jesus. Entre dois ou três ou mais Jesus estará presente até os confins do mundo e até a consumação dos séculos. Se a liderança começar a entender que nós precisamos uns dos outros desesperadamente para achar Jesus, então nós vamos ter muitas reuniões de Atos 15 e muitos discernimentos do que é secundário e do que é primordial, e a igreja vai começar a se ligar pelas juntas e ligamentos. Quando você começa a ver Jesus no outro, aí você não consegue rejeitá-lo mais. Pode não gostar dele, mas se você viu Jesus nele, e você precisa de Jesus nele, então vocês vão andar juntos, e essa unidade, comunhão vai trazer riqueza para outras pessoas.
A revelação progressiva de Cristo nos últimos dias
Isaías 60.2 diz que densas trevas cobrem os povos, “mas sobre ti o Senhor virá surgindo como luz”. 1 Pedro 1.13 diz: “Cingi os vossos lombos, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos oferece na revelação de Jesus Cristo”. Pedro estava escrevendo pra pessoas que já eram convertidas, já estavam na igreja, já estavam andando com Deus, já tinham ouvido o evangelho. Ele estava dizendo: “esperai inteiramente na graça que se vos oferece na revelação futura, progressiva de Jesus Cristo, prometida pros últimos dias”. Jesus não vai voltar fisicamente de repente. Sua volta vai ser um susto pra quem não o espera, mas pra quem está esperando por ele a bíblia diz que esse evento é como o sol da manhã. Vai raiando, raiando, brilhando até ser dia perfeito. Vocês crêem que Jesus vai voltar fisicamente? Jesus vai voltar fisicamente. E esse não é um evento isolado. Aliás é um grande ímã que está atraindo todas as coisas pra ele – ele que é a causa de todas as coisas que estão acontecendo no mundo. Ele acelera ou não as coisas que vão acontecer que produzem a sua vinda.
Antes de sua vinda, como Deus não faz nada sem antes revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas, vai haver uma conscientização coletiva de quem é Jesus. Vocês esperam isso? 1 João 3:1-3 diz: “Amados, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque assim como é, o veremos”. Todo o cristianismo é baseado na revelação. Revelação trata de mistério. Mistério é uma coisa que a mente natural não consegue entender facilmente. E à medida que as cortinas são afastadas lentamente e nós começamos a ver quem é Jesus, nós somos transformados. Se Jesus vai voltar fisicamente, logo quem estiver ligado com Deus, ligado no Espírito, vai começar a ver Jesus de uma forma que nunca viu. Não se trata, portanto, de sermos apanhados de surpresa. Não vai ser assim. Nós vamos ter uma revelação progressiva de Jesus. Quem está vigiando, esperando, não vai se dar conta do ladrão somente quando este já está à porta. Você vai escutar os passos lá longe. Nós precisamos estar atentos para a revelação de Jesus Cristo. Pedro fala: “Sede sóbrios”. O que é ser sóbrio? É não ficar correndo atrás de ventos de doutrinas, é não procurar ficar coçando os ouvidos. É ouvir a palavra, é ouvir essas mudanças que Deus quer cobrar de nós, é atender ao chamado de Deus, é estar atento como Simeão e Ana no tempo em que Jesus nasceu. Eles estavam ali no templo, vigiando, orando, atentos, conferindo. E à medida que nós praticamos isso, as cortinas serão removidas. Pedro diz assim: “a graça que se vos oferece na revelação de Jesus Cristo”.
Então nós teremos uma revelação maior de quem é Jesus, e tendo essa revelação maior de quem é Jesus, nós começaremos a manifestá-lo mais e teremos a essência e a paz da igreja. Todo mundo fica preocupado com o anticristo: como ele será? Acho que não é tão interessante ficar preocupado com isso. Acho que é mais importante nos preocuparmos com o que nós estamos sentindo no Espírito, com o que alguém, em algum lugar, talvez mais afinado com Deus do que nós, está sentindo. Vamos estar com as antenas ligadas, procurando, pesquisando, indagando, inquirindo pra saber o que Deus está querendo de nós.
No Concílio do Senhor
Jeremias 23:16: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor”. Vocês estão obedecendo a essa ordem aqui ou pelo menos já se tinham tocado que havia essa ordem? Sempre ouvimos: ouçam os profetas! Eu penso que você tem que obedecer às duas. Quando manda ouvir, ouça; mas quando manda não ouvir, não ouça. O que Deus está dizendo aqui? Não deis ouvidos aos profetas porque eles não estão falando da minha parte, e aí é que vem a parte séria. O Gérson disse que é bom ter conflito quando você tira o que não é de Deus e coloca o que é de Deus. Mas quando é por orgulho ou outra coisa, não. Em muitas igrejas, em muitos programas de televisão, as palavras estão sendo ministradas sem a autorização de Deus. Qual é a ordem do Senhor? Não deis ouvidos. A palavra a que nós damos ouvidos é determinante para aquilo que nós vamos viver. Você vai ouvindo e aceitando, portanto vivendo de acordo com o que você vai ouvindo. Muito cuidado com o que você está ouvindo. Ouvindo não no sentido de escutar, mas no sentido daquilo a que você está dizendo sim, aderindo. Não deis ouvidos aos profetas porque falam da visão do seu coração e não da boca do Senhor.
“Dizem continuamente aos que me desprezam: O Senhor disse: Paz tereis; e a qualquer que anda segundo a dureza do seu coração dizem: Não virá mal sobre vós” (v.17). Olha, eu não achei um versículo melhor pra descrever toda a teologia da prosperidade que é pregada hoje em suas variadas formas. Sabe como chama isso? Pegar a bíblia e as suas promessas e aplicá-las por tabela, indiscriminadamente. Aquele que anda na teimosia do seu coração, portanto desobedecendo a Deus, indo na direção contrária à de Deus, está fazendo tudo errado e ainda ouve: “Vem cá, faz uma corrente. Vamos orar por você. Paz seja com você”. Alisamos sua consciência, acalentamos e falamos: “Vai tudo bem com você”, quando Deus diz: “Não vai tudo bem”. Então se nós estamos fazendo isso, nós estamos criando um problema pra Deus porque Deus queria que nós falássemos uma verdade para aquela pessoa, e nós não falamos a verdade para sermos politicamente corretos. Deus fica furioso com essa atitude.
As pessoas pegam as promessas da bíblia e acham que elas podem ser aplicadas genericamente. Não podem. Promessa de Deus é pessoal, tem que encaixar, tem que servir para uma situação específica. É por isso que precisamos de profeta. Porque o mestre vai ensinar a palavra, mas pouco poderá fazer no tocante a aplicá-la. Os profetas vão saber se aquela palavra, naquela hora, se aplica àquela pessoa e àquela igreja. Há uma época de Deus. Se nós não agirmos nessa palavra dentro da época de Deus, nós vamos estar na contramão do Espírito Santo, falando coisas que eram de outra época… Já pensou se na época de Sansão, ele fosse fazer uma arca? Não ia dar certo. Aplicar uma palavra de uma época pra outra época não dá certo. Cada época tem a sua palavra. A bíblia tem a verdade, é a palavra de Deus, mas ela não pode ser aplicada universalmente de qualquer modo. Ela tem que ser específica. Tem pessoas fazendo coisas erradas, com a direção errada e, em vez de falar a verdade com essas pessoas, nós contemporizamos e falamos que Deus vai abençoá-las, e citamos versículos e aplicamos um versículo aqui, um versículo ali. Isso não funciona, não vai levar ao que Deus quer de nós.
Nesses dias fiquei sabendo de um caso bem interessante, um problema numa igreja: um pastor criando divisão, algo que vinha perdurando há meses. Pois bem, o pastor mais maduro chegou nele e, deixando de lado o politicamente correto, deu-lhe uma exortação daquelas, mas com amor. Quanto mais amor, mais doído fica. Disse coisas que nunca haviam sido faladas. O pastor dissidente foi pra casa, não dormiu, voltou no outro dia com o rosto limpo, arrependido, a família feliz, ele feliz, todo mundo feliz. Parece que foi embora uma sombra. O que houve? A verdade sendo dita em amor, na hora certa, de maneira certa. Não é qualquer hora que você consegue isso não. Você não consegue. Deus consegue. Nós não temos jeito de tratar as pessoas, nós não sabemos. A nossa opinião não resolve nada pra ninguém, mas quando Deus lhe revela alguma coisa da pessoa e você consegue falar com amor, mas a verdade mesmo, a pessoa pode ser curada, e liberta, e feliz.
É isso o que Deus está falando em Jeremias. Versículo 18: “Porque quem esteve no conselho do Senhor, e viu, e ouviu a sua palavra? Quem esteve atento à sua palavra e a ela atendeu?” Versículos 21-22: “Não mandei esses profetas; todavia, eles foram correndo; não lhes falei a eles; contudo, profetizaram. Mas, se tivessem estado no meu conselho, então teriam feito ouvir as minhas palavras ao meu povo e o teriam feito voltar do seu mau caminho e da maldade das suas ações”. Perceberam a chave aí? Ouvir profetas que estiveram no concílio de Deus. Significa pessoas que estão antenadas, que estão ligadas com o que está se passando no concílio de Deus. Pessoas que têm uma palavra procedente, uma palavra pra hoje. Isso a gente precisa ouvir, e essa palavra não é agradável, às vezes, mas ela traz cura. Ela corta fora aquelas coisas que a gente fica acariciando, tratando com band-aid quando a solução é operar. Essa palavra é procedente do concílio de Deus, e isso traz saúde para a igreja. E é essa palavra que nós precisamos. E ela diz: se eles falassem o que eu estou pensando, o meu povo podia ter se arrependido, podia ter voltado, e a coisa podia ser de outra forma.
Uma libertação total: o evangelho puro no livro de Romanos
Quando nós falamos sobre essa importância da palavra, estou me referindo a duas coisas: à palavra de Deus para uma situação, uma família, uma comunidade para a hora em que nós estamos vivendo – uma palavra específica, palavra de orientação, de confrontação, de discernimento –, e também a uma palavra mais geral, básica. Desde setembro de 2007, estamos estudando o capítulo 7 de Romanos lá em Jundiaí. O ano todo, duas vezes por mês, estudando um capítulo da bíblia: Romanos 7. Na verdade o 5, o 6 e depois o 7. Eu conhecia isso de cor e já ouvi n número de palavras sobre o assunto. Mas nós começamos a perceber nas discussões, nas conversas, nas indagações e principalmente também com a ajuda do irmão Lloyd-Jones, autor que deixou publicados 14 volumes sobre seus estudos no livro de Romanos. Irmãos, o que Jesus fez na cruz por nós não foi só perdoar os pecados pra gente poder ir pro céu. Ele nos libertou do pecado. Não precisamos pecar mais. É possível o cristão não pecar, viu irmãos? Vocês crêem nisso? Não precisam ser mentirosos: vocês não crêem não. Mas é possível não pecar. Cristo nos livrou da escravidão do pecado. Você pode se levantar de manhã e dizer: esse é um dia em que eu não preciso pecar. Assim como antes eu precisava pecar, era escravizado ao pecado – o mal que eu não queria, isso fazia; o bem que eu queria, esse eu não conseguia fazer –, hoje, em Cristo, sou liberto. Eu posso não pecar. Eu tenho essa opção. Então as boas novas começam a ficar boas e novas também.
Somos livres do pecado e da necessidade de pecar, e também livres da lei, de regras, de cobrança, livres de julgar os outros, livres de fofocas. Livres de culpa, livres de condenação, livres de exigências, livres dessa palavra “tem que”, “deve”, “precisa”. Nós estamos livres. Jesus morreu pra nos livrar do pecado e da lei. Estamos livres. Estamos livres. Eu era casado, mas Romanos 7 diz que o marido morre, portanto eu sou livre pra casar de novo. Mas, no caso, quem morreu foi eu mesmo, porque a lei não morre. Mas eu morri com Cristo e ressuscitei e agora não devo mais nada. Eu servia no exército, tinha que bater continência, mas saí e agora quando chego diante do capitão, posso zombar dele e ele não pode mais fazer nada. Porque eu não devo mais nada pra ele. Eu fui preso, paguei 20 anos minha culpa, fui pra cadeira elétrica, morri e voltei. “Como você tem coragem de andar na rua? Você é um criminoso”, alguém pode indagar. “Mas eu paguei”.
Eu não estava planejando falar nada disso. Isso é Romanos, irmãos. Isso aí é o que Paulo viu. Gente, eu fico pensando como Paulo estava antes de escrever Romanos. Grávido de Romanos. Meu Deus do céu, o cara estava arrebentando por todos os poros. Ele não imaginava que ele ia escrever nada daquilo, mas aquilo estava fervendo dentro dele. Como é que saiu aquilo? Uma carta pros romanos? De onde veio? Como ele se sentiu antes, depois? Que coisa maravilhosa! Parece complicado, parece documento. Vai pra cá, e volta pra lá, e repete. Mas, irmãos, o salto daquilo lá é uma libertação total, é uma vida transformada, não é conversa fiada. E sabe qual é a coisa principal que morre nesse negócio se você entender isso direito? É qualquer tentativa humana de agradar a Deus. Morre mesmo. Você entende que fora de Cristo você não faz nada. E em Cristo tudo está resolvido. Isso é coisa que a gente devia ouvir desde o primeiro dia do evangelho. A gente devia ouvir isso em nossas reuniões e sair gritando: “É mesmo, posso andar em novidade de vida. Não preciso pecar. Jesus fez a obra da cruz. Eu estava em Adão, agora estou em Cristo. Deus me colocou em Cristo. Eu sou nova criatura e tudo o que é verdade sobre Cristo é verdade sobre mim”. Mas a mente vai voltando, voltando. E aí precisamos nos reunir e ouvir isso de novo, essa palavra de novo.
Quando eu disse que você pode não pecar, não estou dizendo que você não vai pecar. Estou dizendo que, quando você crer, você não vai pecar, você não precisa, não tem essa obrigação. Mas, infelizmente, a igreja não circula essa palavra, essa revelação não reverbera entre nós. Como conseqüência, resistimos a andar na luz e constantemente lançamos mão dos personagem que criamos. E aí estou lá fora, estou com outro personagem, minha fé é outra. Eu falo: será que eu peco, será que eu não peco? No trânsito, alguém te ultrapassou, fechou você. Se eu, apesar da raiva, faço cara amistosa, vem alguém e diz que eu estou sendo falso. Então a solução é ser eu mesmo. Mas ser eu mesmo significa xingar, esbravejar. Aí eu pequei. Então como é que eu faço? Se eu xingo o cara, eu estou sendo real mas pecando; e se eu finjo, eu estou sendo fingido. Ai meu Deus! Vocês perceberam que a chave para a nossa vitória está no livro de Romanos? Não só no livro de Romanos, mas Romanos é central. Está em Gálatas, em Efésios…
Nós precisamos entender. Eu decorei de 1 a 8. Eu sabia tudo e vi meu pai pregar sobre isso muitas e muitas vezes. Como eu disse, nós estamos estudando há um ano e ainda não entendemos totalmente, mas alguma coisa tocou, me falou: “Se a igreja entender Romanos (não precisa estudar Romanos, precisa entender a verdade de Romanos), não vai ter nada na face da terra que vai nos segurar”. E Deus quer que com todos os santos possamos compreender a altura, a profundidade, o comprimento e a largura do amor de Deus em Cristo Jesus. Nós não entendemos quão pecadores somos, quão terrível é nosso estado, tampouco quão grande é a solução de Deus. E nós ficamos lutando com esse negócio de bom comportamento. E o bom comportamento produz orgulho, culpa, condenação e crítica dos outros. Nós não chegamos ao ponto de levantar a bandeira e dizer assim: “Eu nunca vou conseguir e ninguém consegue porque nem Moisés conseguiu”. Então eu desisto da Velha Aliança e agora quero a Nova Aliança em Cristo Jesus. É outra coisa. E o primeiro sinal de que essa outra coisa está realmente funcionando, que foi desativado esse maldito conhecimento do bem e do mal (e tentar vencer o mal, e tentar fortalecer o bem, esse negócio terrível que nunca funciona), é que você vai começar a ter alegria e paz, uma vida santa, uma vida que contagia os outros. Não tem jeito de entender essas coisas e viver em pecado. Se você começa a entender isso, você começa a ter uma fonte que jorra, que vai alastrando.
Paulo mudou a história quando disse “Meu evangelho”. Agostinho foi transformado no século IV quando viu as mesmas coisas. Mais tarde, John Huss viu. Depois foi a vez de Wycliffe. Lutero viu e mudou a história. Wesley viu e incendiou a Europa. Depois Lloyd-Jones viu. Hoje nós começamos a ver. Tem alguma coisa ali que pode mudar a face da terra. É bomba atômica. Se você entender o que aconteceu na cruz de Cristo, você será nova criatura e terá o poder que vai transformar o mundo, formar a igreja gloriosa e levantar tudo aquilo que Deus quer.
O ministério da Palavra: uma urgência para a igreja atual
Concluindo: para uma igreja hoje, como nós, uma comunidade de irmãos que está lutando no meio dessa penumbra de graça e lei, e tentando melhorar, qual deveria ser a nossa atividade mais importante? Qual deveria ser a prioridade? Qual deveria ser a estratégia pra nós enfrentarmos a iminente volta de Cristo? Deveríamos ter um grupo de irmãos pesquisando a palavra, orando, buscando entrar no concílio de Deus porque se isso ocorrer, vai ser liberada uma vida que vai começar a correr velozmente. Nós temos, neste ano de 2008, feito oficina da palavra em diversos lugares. A idéia era juntar os pastores com o ministério da palavra nas igrejas para estudarmos, para renovarmos, para despertarmos. No entanto, o que a gente encontra? Não tem quase ninguém. Tem baterista, tem quem toca violão, tem líder de jovens, mas não tem ministério da palavra na igreja. Somente o pastor mesmo, ou um ou outro com um pouco mais de interesse. Não tem.
Irmãos, o Brasil investe uma porcentagem mínima em pesquisa e desenvolvimento em relação a outros países. Mínima. O pouquinho que investiu é o que está fazendo o Brasil ser poderoso no mundo hoje. Por exemplo: a Embrapa descobriu como plantar soja no Cerrado. O Brasil é o maior produtor de soja mundial, por causa de uma pesquisa mínima. O álcool: o Brasil está na dianteira do mundo. Uma pesquisazinha. Se o Brasil investisse na proporção que os outros investem, seria uma potência que ninguém seguraria, pois o pouco que investe já dá um retorno imenso. Imagina se a igreja começasse a entender a urgência do ministério da palavra. A palavra é uma pessoa, e à medida que nós entendemos essa palavra, procuramos descortinar essa pessoa maravilhosa.
Nós precisamos, na igreja, criar uma expectativa viva pela volta de Jesus, começando pela liderança, pelos irmãos da palavra, mas não restrito a eles. Jesus está voltando e ele vai se revelar a nós na sua palavra. Você vai ver Jesus de um jeito que você nunca viu, e isso vai mudar a sua vida. Isso não é uma coisa que vai acontecer lá no futuro não. Pode acontecer hoje. Uma partezinha hoje, outra amanhã. Ela será como o dia. Você nem sabe como o sol vai brilhando. Vai brilhando mais, até que você apaga a candeia que alumiava o lugar escuro. Mas enquanto o dia não nasce, é preciso ficar sob a candeia que ilumina o lugar escuro. Fica ao redor porque isso tem poder. Quando falamos sobre anunciar Jesus, não estamos falando sobre anunciar como Billy Graham anunciou, o que já é maravilhoso. Mas não é suficiente pra mudar a vida da pessoa. Quando nós falamos de anunciar Jesus, nós estamos falando de entender a profundidade da obra que Jesus fez em nossas vidas para nos livrar do pecado, da lei e de todas essas coisas.
Então, falando sobre a igreja de hoje, minha sugestão é esta: nós precisamos ter expectativa de que a palavra vai se revelar a nós mais e mais. E que Deus vai se encontrar com todos aqueles que estão atentos e querem entrar no concílio de Deus e ouvir o que ele está falando, o que ele está pensando. No meu entender, em cada igreja, em cada lugar, isso deve ser prioridade. Jesus vai se revelar mais no futuro? Vai. Mas o que já recebemos de revelação tem poder para quando os irmãos chegarem na reunião, cansados e sobrecarregados, saírem aliviados porque se alimentarão de um pão sólido, de algo firme, de algo bom que vai livrá-los de muitas coisas.
É lamentável que a nossa palavra, muitas vezes, ministre morte e não vida. A nossa palavra é salgada, ela vem com lei, com exigência, com cobrança, com esse negócio: “tem que fazer mais força”; “tem que ser mais espiritual”. Quando você diz que está pregando Jesus e, ao mesmo tempo, cobrando os irmãos, você está fazendo uma coisa contraditória, o que deixa os ouvintes confusos. Então quando começamos a criar cobranças, criar exigências, criar regras, nós estamos atrapalhando o processo que Deus quer fazer. Lembre-se disto: a palavra tem poder pra mudar vidas desde que ela não seja contaminada com a velha aliança, com lei. Ela tem que ser pura. Pra isso você que ministra a palavra precisa estudar junto com outros irmãos pra ser livre desses negócios errados que estão na sua cabeça. Chamam-se sofismas. Tem um monte de sofismas na sua cabeça. Isso precisa ser desarmado porque você está contaminando seus ouvintes, misturando palavras boas com palavras erradas, e a igreja nunca vai sarar se ela ficar desse jeito. Guia cego guiando outros cegos não dá.
Eu espero que vocês tenham compreendido a importância que tem hoje essa aventura maravilhosa de vermos a palavra de Deus ser descortinada. Não é discutir sobre trivialidades. É discutir sobre Jesus e a obra dele na cruz. E sobre a obra dele em nós, hoje, que consegue nos livrar. Glórias a Deus.
Harold Walker, 52 anos, é casado com Ester e tem três filhos: Esdras, Susana e Samuel. Reside em Monte Mor SP e faz parte do Conselho Editorial da Revista Impacto. É também um dos idealizadores do Curso de Preparação Profética (CPP) e do Encontro anual de Jovens “Preparando Soldados para as Últimas Batalhas”. E-mail: walkerharold@yahoo.com