“E o servo do homem de Deus se levantou muito cedo e saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros; então o seu servo lhe disse: Ai, meu senhor! Que faremos?” (2 Rs 6:15)
Fomos à Cracolândia com a missão de evangelizar, socorrer, aprender, falar do amor de Deus em Cristo, ser solidários, na esperança de fazer a diferença para aquelas pessoas. Minha surpresa ao chegar a um lugar de medo, pavor, choro, lamento, horror e esquecimento foi enorme. Vi muita dor, tristeza, morte e desolação. Seria o inferno na Terra? Poderia ficar dizendo e repetindo muitas vezes o que senti e, ainda sim, não chegaria nem perto da realidade daquele lugar.
Uma grande impotência tomou conta de mim. Enxerguei vidas perdidas e um lugar sob total domínio do mal. A falta de esperança daquele lugar refletiu principalmente em mim, pois não conseguia ter nenhuma reação ou fé de que fosse possível qualquer coisa para acabar com aquele sofrimento. Senti uma perplexidade total, como se minha ida até ali tivesse sido totalmente inútil. A sensação é de que o leite já havia se derramado há muito tempo e não havia mais nada a fazer. Me senti perdido, como à deriva no mar, me vi incapaz de fazer algo para cobrir tanta dor e desespero.
Eram pessoas que cheiravam mal, estavam fora de si, sofrendo ataques de overdose no meio da rua. Eram alucinados, traficantes e gente dormindo em meio ao sol escaldante – um cenário impressionante, que me fez congelar. Só me restava voltar para casa. Chorei lá, chorei voltando, chorei em casa e chorei no dia seguinte no trabalho. Ouvindo uma canção no carro, me perguntava: “De onde virá o socorro?”. Minha fé chegava ao fim.
Então me lembrei de algumas correntes tão vistas e repetidas nas redes sociais, como jogar baldes de água, descobrir a cor do vestido, descobrir se o gato está descendo ou subindo a escada… Enfim, vídeos que são assistidos por milhões de pessoas todos os dias. Foi aí que o Senhor Jesus me lembrou de que é assim que o Espírito Santo opera, e mais, infinitamente mais. É assim que Seu Espírito opera nos corações, ramificando seu amor, trazendo o mesmo sentimento em seu povo, restaurando e abençoando.
Aquele lugar não é tão grande como parece nem tão gigante que não possa ser vencido. Se nós, a igreja, nos juntarmos e iniciarmos um movimento sem precedentes, aquele lugar desaparecerá rapidamente, e num piscar de olhos. Façamos uma conta simples: se três igrejas adotassem uma pessoa daquele lugar e, junto com isso, oferecessem assistência aos seus familiares, o peso seria ínfimo. Parece muito? Ora, se três igrejas e seus membros não puderem apadrinhar uma pessoa juntamente com seus familiares, então fechemos as portas, pois estamos brincando de ser igreja.
Quando olhamos lugares como esse com olhos humanos – com os olhos do moço do profeta –, realmente os problemas são muitos, surge o medo, e nossa tendência é travar diante da tragédia. Congelamos, queremos sumir, pois nos sentimos totalmente impotentes. Mas se olharmos para a igreja através das lentes do poder do Senhor Jesus e da caridade em nós firmada pela graça da salvação, então a solução chega bem mais rápido do que imaginamos. Hoje já consigo ver que o problema é simples, difícil é tirar a igreja de seu conforto e fazê-la entrar na batalha para encarar o inimigo das nossas almas.
Creio que podemos mudar aquele e muitos outros lugares de morte e destruição, se tivermos boa vontade e o mínimo de disposição. Pois o Senhor não enviará anjos para salvar aquele lugar, mas contará com a sua igreja para materializar o grande amor que Ele tem pela humanidade.