Este artigo é o terceiro de uma série que discutirá alguns aspectos complexos do divórcio, uma prática antiga que afeta atualmente a maioria das famílias.
No artigo anterior, refletimos sobre os diferentes tipos de casamento, denominando-os relacionamento conjugal ou conjugalidade. Embora exista um modelo original de casamento, de acordo com o qual vivem muitos casais que conhecemos, frisamos que um relacionamento íntimo regular é, em si, uma forma de casamento, mesmo a despeito de não se achar documentado. Ter vida conjugal é uma condição e não um título, ainda que muitos procurem banalizar tal condição.
Todo casal precisa ser amado e respeitado
No bojo dessa realidade, estamos defendendo a importância de todos os casais serem tratados com amor ágape, o único poder capaz de reconduzir a natureza humana à sua origem. Nessa direção, apresentaremos a partir daqui alguns resumos de casos reais para exemplificar a condição do atual trabalho de aconselhamento e/ou terapia conjugal/familiar citado no segundo artigo. Entre eles também estarão histórias oriundas de publicações especializadas ou compartilhadas em grupos de supervisão profissional. Obviamente foi alterado todo tipo de informação que pudesse identificar fontes, lugares ou pessoas envolvidas.
O primeiro é sobre dois jovens que se conheceram cursando faculdade em outro Estado. Eles se apaixonaram e, sem consultarem os pais ou buscarem a aprovação deles, foram morar juntos, ou seja, como marido e mulher. Depois de três anos de convivência íntima, tempo que costuma fazer a paixão dar lugar a outras experiências, a jovem procurou ajuda para tentar salvar o relacionamento, pois o companheiro se tornara insensível com ela. Eles não documentaram a união, pois ainda se consideravam namorados e não tinham filhos. Porém, segundo ela, as marcas que cada um colocou na alma do outro dificilmente seriam tiradas, sendo esse o principal motivo de quererem vencer aquela crise. Apesar das dificuldades, o casal reconhecia os valores mútuos e os eventuais benefícios de manterem aquela união.
O segundo caso é o de uma senhora viúva com dois filhos adolescentes, que conheceu um senhor oficialmente divorciado, enquanto ambos gozavam férias. No início da vida conjugal, embora também se considerassem namorados, como os jovens citados acima, geraram um garoto. Depois de quase cinco anos, separaram-se, e ela “namorou” um outro homem, com quem também teve mais um garoto. Ao decidirem morar juntos, os conflitos se intensificaram, envolvendo tanto a nova conjugalidade e o filho menor quanto o primeiro garoto e seu pai. Em meio a tudo isso, o casal foi buscar motivos para tentar manter essa última família.
Esses dois diferentes casos apresentam entre seus aspectos em comum a iminência de rompimento de laços afetivos que são próprios de um casamento oficializado, ainda que os casais insistam em se considerar apenas “namorados”. Para ajudar casais como esses a vencerem seus conflitos, um dos desafios seria primeiramente “convencê-los” da necessidade de pararem de buscar soluções para suas carências emocionais por meio de novas experiências conjugais. Um segundo ponto, o de fortalecerem seus atuais casamentos, mesmo que não sejam documentados. Eles precisarão aprender a construir um relacionamento emocional e espiritualmente saudável, entendendo que esse será, embora difícil, um melhor caminho.
No trabalho com casais como esses, também poderá surgir a dificuldade de os auxiliadores “disputá-los” com algum líder religioso que esteja querendo levá-los para sua igreja, às vezes com a promessa de solução dos problemas a partir de um “casamento de verdade”, proposição que ousará justificar ainda que tenha que lançar mão do artifício de descontextualizar trechos bíblicos. Mas a verdade é que, ocorrendo a separação, não há como livrar as famílias das consequências das perdas que terão em relação àquilo que a conjugalidade vivida construiu, principalmente quando existem filhos na história.
Com esses casos, esperamos ter ficado ainda mais claro para o leitor o que é a condição de estar casado, não importando o fato de o relacionamento em questão ter o nome de “ficar”, “namorar”, ser “companheiro(a)”, “namorido” etc. Daí a importância de os casais serem ajudados a encontrarem meios de manter e melhorar esses relacionamentos.
Deus sempre tem um plano melhor que o do ser humano
Gostaríamos muito que a realidade fosse diferente, que todos se preparassem bem para o casamento e desfrutassem de tudo o que o Pai celestial planejou para ele (Mt 19.8). E essa possibilidade existe no contexto do Reino de Deus na Terra como foi proposto por Jesus Cristo. Ainda que pareça paradoxal, é exatamente por isso que precisamos acolher quem procura auxílio por estar sofrendo com a iminência ou o rompimento de sua conjugalidade. Essas pessoas não precisam de novas orientações religiosas, mas de saberem que são amadas incondicionalmente, aprendendo na prática esse amor para que possam transmiti-lo a seus cônjuges, companheiros e/ou filhos.
Dentro do Reino de Deus na Terra, o casamento tem uma função importantíssima, por isso o fato de as Escrituras tão acertadamente proporem: “Deixará o homem pai e mãe, e se unirá à sua mulher…” (Mt 19.5). No que depender do Pai Amoroso, o novo lar se tornará um tipo de Jardim do Éden, algo que é bem diferente do complicado romantismo humanista veiculado pela mídia globalizada. Esse modelo original de casamento que prima pela beleza da singularidade e unidade do casal possibilita o crescimento pessoal em todas as áreas. Ele ocorre inicialmente com o importante processo de independência dos cônjuges em relação a seus pais e vai aumentando potencialmente através das experiências diárias e ascendentes geradas pelas conjugalidades espiritual, afetiva e física, e exatamente nessa ordem.
Há orientações claras na Bíblia para quem quer participar disso, e existem muitas famílias desfrutando dessa realidade, as quais têm sido “pontes”. Através delas, jovens casais, inclusive aqueles vindos de lares desfeitos, encontram apoio para construírem relacionamentos “até que a morte os separe”. O foco nesse tipo de união não é satisfazer-se a despeito do outro, mas viverem juntos a vontade do Pai Amoroso para a conjugalidade, pois ela, sim, é “boa, agradável e perfeita” (Rm 12.2).
As difíceis circunstâncias geradas pelo divórcio
Retomando a experiência da Drª. Wallerstein, afinal como ficam os relacionamentos entre os ex-cônjuges e parentes depois do divórcio? Embora o leitor já deva ter percebido a resposta colocada em linhas gerais desde o primeiro artigo, ou seja, as separações dão início a muitas confusões, vamos refletir mais sobre isso através de algumas citações do livro. Inicialmente destacaremos a relação que a autora faz entre as experiências da paixão e do fim do casamento: “Quando estamos apaixonados, idealizamos o objeto de nosso amor; entretanto, na hora da separação, deixamos de idealizá-lo e, às vezes, até o desumanizamos. O divórcio é, na verdade, o oposto da paixão, conduzindo de forma inevitável à raiva e, por vezes, à fúria intensa – fúria essa que as pessoas pensam ser plenamente justificada”(p.33).
Ainda que o leitor tenha se apaixonado apenas uma vez na vida, é fácil pensar na triste experiência do que seria um relacionamento oposto a isso. Se na paixão as atitudes visam à manutenção do prazer físico acima de tudo, no rompimento conjugal o contrário de apaixonar-se seria tentar perpetuar o máximo possível algum tipo de sofrimento, ou muitos deles, para o ex-“namorado” ou (ex)cônjuge. Observamos aqui que a grafia (ex)cônjuge é a forma de destacar o nosso entendimento e experiência de que a conjugalidade só é finalizada de fato com a morte, ou seja, nessa vida o casal estará sempre ligado de alguma forma. A Drª. Wallerstein vivenciou isso junto às famílias que acompanhou. Oportunamente falaremos mais a respeito desse assunto.
Quando ocorre o divórcio, a parte que foi traída e/ou abandonada dificilmente conseguirá conter o “justificável” desejo de vingança e, infelizmente, agirá de modo a afastar cada vez mais o (ex)cônjuge ou as pessoas mais próximas a ele, realimentando o círculo vicioso da inimizade. Como exemplos, uma cunhada que era amiga e confidente pode se tornar a pior inimiga, a suposta causadora das intrigas e da separação do casal. A sogra, que era como se fosse uma segunda mãe, torna-se a protetora megera do marido imaturo, principalmente ao recebê-lo de volta em casa como “solteiro”. Segundo a pesquisadora, na maioria dos casos esse processo não é rápido, pois “Os sentimentos, especialmente os de raiva e os de mágoa e humilhação, podem permanecer vivos por muitos anos após o divórcio” (p.398).
Claro que há as poucas exceções das “separações amigáveis” (amigos não costumam separar-se). Mas, na experiência dela, que é parecida com a nossa, superar os traumas inerentes ao fim da conjugalidade é uma tarefa complicada demais para a maioria das pessoas enfrentarem sozinhas. Daí surgirem as muitas e diferentes patologias relacionais.
No contexto das “exceções”, esse quadro de sofrimento parece ser mentira quando ouvimos discursos animados de casais que estariam mais felizes após o divórcio. Sendo figuras públicas, autoridades civis ou religiosas, artistas, atletas etc., tem-se a impressão de que eles ficaram mais felizes ainda. É como se possuíssem um suposto segredo de como ter uma separação conjugal perfeita. Inclusive, já há vídeos na internet a respeito. Mas os poucos que conhecem os “bastidores” de suas vidas têm a oportunidade de acompanhar toda a verdade e verificar os inevitáveis estragos nos relacionamentos desfeitos em consequência da desistência de buscar a superação das crises. Para que não fique dúvida sobre essa realidade, descreveremos mais um caso.
Movido por “amor à primeira vista”, um jovem casal passou a desfrutar da conjugalidade e gerou um belo e saudável menino. Poucos anos depois, terminada a paixão e o “namoro”, eles iniciaram uma guerra emocional que foi consumindo lentamente os relacionamentos da família, parentes e amigos. E isso mesmo no contexto de uma longa terapia familiar, que inicialmente visava ajudar o filho envolvido em muitos e complicados problemas por todas as boas escolas por onde passou. Para piorar os sofrimentos de todos e dificultar o trabalho terapêutico, o uso de drogas iniciado pelo garoto funcionou como mais um ingrediente intensificador das complexas brigas entre os (ex)cônjuges. Estranhamente, com o trágico suicídio do filho por overdose, o casal parou com os litígios, indo cada um viver sua vida. Ele era um advogado bem-sucedido, e ela, uma apresentadora de uma grande rede de televisão. Aliás, ela nunca deixou de manter sua simpatia diante do público durante os anos das crises familiares. Essa triste história ilustra o que sempre foi e sempre será a realidade da maioria das separações conjugais, uma fonte de diversas categorias de sofrimentos, seja para um ou mais dos envolvidos.
Nas próximas reflexões, apresentaremos outros casos envolvendo separações, objetivando continuar reforçando a tese da Drª. Wallerstein de que o divórcio é um fenômeno traumático demais para ser minimizado ou banalizado. Vejamos mais uma citação nessa direção: “As causas do divórcio não mudaram, bem como os sentimentos de homens e mulheres. O sofrimento não diminuiu. As pessoas gostam de pensar que, pelo fato de existirem tantas famílias divorciadas, adultos e crianças achariam o divórcio mais fácil ou até mesmo simples. Mas nem os pais nem os filhos encontram consolo nos números. O divórcio não é uma experiência mais ‘normal’ simplesmente porque muitas pessoas foram afetadas por ele” (p.399).
Importante lembrar que ela acompanhou sessenta famílias durante mais de vinte anos, visando estudar cientificamente o divórcio para confirmar se as consequências negativas dele duravam mesmo até dois anos. A Drª. Wallerstein sentiu de perto o quanto um casal pode ferir-se mutuamente, ferir os filhos e outras pessoas próximas após o rompimento da promessa de amor e fidelidade até a morte. Ela testemunhou o quanto grandes parceiros podem se tornar os piores inimigos.
Retornaremos ao tema “como ficam os relacionamentos do casal após o divórcio” em outros contextos desta série de artigos. No momento queremos enfatizar para o leitor a urgente necessidade de ajudar casais que lhe sejam próximos a vencerem suas crises sem que venham a passar pelo divórcio. Se for o leitor quem precise desta ajuda, deve buscá-la imediatamente, de preferência através de pessoas que não trabalham sozinhas, sejam elas profissionais, líderes religiosos, amigos etc.
Mesmo sendo o ideal as ações preventivas contra o divórcio, também é importantíssimo o acompanhamento amoroso incondicional dispensado àqueles que mais estão sofrendo devido às crises ou separações conjugais em andamento. O principal cuidado que deve ter os que querem ajudar é buscar a graça de agir como Jesus Cristo, portanto de forma dependente dEle e nunca isoladamente. Esse é o único meio de ficar livre da hipocrisia e/ou do farisaísmo e lembrar que não somos melhores que ninguém.
No próximo artigo começaremos a refletir um pouco mais sobre os sofrimentos dos “filhos do divórcio”.
PASSEI POR UMA CRISE NO MEU CASAMENTO, ME SEPAREI POR 14 MESES, DEPOIS DECIDI PERDOAR A TRAIÇÃO DO MEU MARIDO…..MAS NÃO TEM SIDO FÁCIL, ELE TEM UM FILHO DESSA TRAIÇÃO
DECIDI ACEITA-L0 POIS MEUS FILHOS E TODA FAMÍLIA SOFRIAM COM ESSA SITUAÇÃO…ESPERO NO SENHOR QUE UM DIA EU POSSA OLHAR PRA TRÁS SEM SENTIR NENHUMA DOR OU RESSENTIMENTOS.
ANTES DO MEU DIVÓRCIO, PASSEI POR VÁRIAS CRISES NO MEU CASAMENTO, COMO PEGAR CONVERSAR DO MEU MARIDO COM OUTRAS MULHERES PELAS REDES SOCIAIS(CONVERSA COMO MARCANDO ENCONTROS, OU QD A PESSOA ERA DE OUTRA LOCALIDADE, SEMPRE ELOGIOS), ATÉ UM DIA EU DESCOBRIR QUE ELE ESTAVA REALMENTE ME TRAINDO. FOI UM PROCESSO DOLOROSO, PEDI QUE ELE SAÍSSE DE CASA, ELE SAIU, SEM QUESTIONAR, E FOI ENTÃO QUE TODA AS NOSSAS FAMÍLIAS FICARAM SABENDO O PQ QUE EU QUERIA ME SEPARAR DELE, JÁ ERA INSUSTENTÁVEL NOSSA CONVIVÊNCIA COMO UM CASAL. NEM ELE SE IMPORTAVA MAIS COM O NOSSO RELACIONAMENTO, MAS PRA MIM ATÉ HJ AINDA É MUITO DIFÍCIL TOCAR NESTE ASSUNTO.