Ordinário é tudo aquilo que é habitual, comum, usual, que se faz presente a todo momento. É o oposto do extraordinário. Trabalhar todos os dias é ordinário, pegar os filhos na escola, sentar-se para almoçar e jantar, ir à igreja, participar de reuniões, ensaiar… Tudo isso é ordinário.
A vida cristã, em sua maior parte, é vivida no mundo do ordinário. Mesmo na igreja primitiva não era diariamente que uma Dorcas era ressuscitada, mas era todo dia que “perseveravam unânimes no templo”, era todo dia que “partiam pão de casa em casa…”. E de que forma faziam isso? Tediosos? Modorrentos? Não, mas “com alegria e singeleza de coração” (At 2.46).
É meia-verdade quando se diz que o nosso Deus é o Deus do sobrenatural. Ora, e do natural? Ele também não é o Deus que tudo fez, que tudo planejou e que estabeleceu as “leis naturais”? Por tudo o que acontece, por mais natural que seja, Ele é também responsável. Uma criança que nasce com um defeito congênito e é miraculosamente curada: creditamos tal feito a Deus. E a criança que nasce perfeita? Não foi Deus quem a fez? Devemos reconhecer a ação divina e nos alegrar igualmente tanto por uma como por outra.
Infelizmente muitas pessoas só buscam o espetacular, o maravilhoso, o sobrenatural e não se alegram com a bênção do cotidiano, que também é obra de Deus. Há pessoas que quando vão à igreja e não sentem um arrepio na espinha, não veem fogo do céu descer e o diabo espernear, voltam frustradas para casa. Foram ao templo, mas não viram ali o Senhor falando, abençoando, soprando Seu Espírito suavemente sobre cada um.
Quem só se contenta com o extraordinário não repara no sol que nasceu, não olha para o céu estrelado e mantém-se impassível diante de um jardim florido e da criança que brinca ao seu lado. Sua vida cristã só tem olhos para os anjos, para o trono de Deus, para os céus abertos.
Confesso! Eu nunca tive visão, nem de anjo, nem de Jesus, e também nunca fui arrebatado para os lugares celestiais. Mas tenho aprendido a ver diariamente muitas coisas boas que Deus tem colocado em minha vida, tenho visto a bondade de Deus sobre a Terra, tenho visto o amor de Cristo na vida de muitos irmãos, os quais às vezes não sei se são gente ou se são anjos que Deus coloca em nosso caminho para nos abençoar.
Nunca tive o privilégio de ouvir Deus chamar pelo meu nome, a viva voz, como fez com Samuel, mas tenho aprendido a ouvir Deus sussurrando ao meu coração, tenho ouvido Deus falar no silêncio da minha alma, e mesmo diante da dor sinto como se Deus me dissesse: “fica firme, pois Eu estou ao seu lado”. Não há linguagem, nem há palavras, e não se ouve nenhum som, no entanto por toda a terra escuto a Sua voz (Sl 19).
Nunca recebi do Espírito Santo a capacidade de falar a língua dos anjos, que é um dom extraordinário, e quando ouço alguém falando, nada entendo. Mas Deus me deu algo simples e ordinário, que só pode ter vindo do Espírito Santo, que é abrir a boca e falar de forma tão simples que até uma criança entende.
Nos tempos bíblicos, os judeus andaram pelo deserto, e suas roupas e sandálias não se desgastaram; eu tenho de trocar de sapato a cada seis meses. O povo de Deus em sua caminhada para a Terra Prometida não precisava se deslocar para fazer suas compras, pois a comida lhe caía do céu na porta de sua tenda; eu tenho de trabalhar muito para ganhar uns trocados. Nunca me caiu nada do céu.
Não, não estou reclamando nem pedindo a Deus que meu sapato jamais se desgaste. Aliás, me considero mais privilegiado que aqueles do deserto, pois apesar de eles verem o extraordinário, murmuraram contra Deus, reclamaram da comida e muitos morreram sob a ira divina. Eu estou aqui, recebendo a cada dia do Senhor a sua provisão de uma forma nada espetacular, mas eu sei que vem Dele.
Quem sabe ver a bênção do cotidiano é mais agradecido, pois tudo o que vê e recebe, recebe com o coração alegre, pois sabe que Deus “se esconde” por trás de cada gesto. Quem sabe ver a bênção do cotidiano é mais feliz porque dá graças por tudo, pelos pássaros que cantam, pelo raiar da manhã, pela possibilidade de levantar e ir para o trabalho… Quem espera só o extraordinário mal observa as cores que Deus pintou em sua vida, pois sempre espera do céu coisas grandiosas para alegrar-se.
Aprenda a enxergar Deus no seu cotidiano: Ele está presente nas coisas simples da vida. Você sai ganhando, pois tem experiência com Deus todos os dias. Agora, quem só depende do sobrenatural…
Daniel Rocha é psicólogo e pastor da Igreja Metodista em Itaberaba SP
Texto extraído de: www.metodistaitaberaba.com.br
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