Os diferentes relacionamentos conjugais
Já faz tempo que casar com a possibilidade de se divorciar é uma realidade, uma garantia legal e o principal motivo do aumento do número de recasamentos (formação de novos pares após o fim da união anterior. Lembramos que nossa discussão é apenas sobre a primeira união). Talvez o leitor não tenha pensado em tal situação como geradora de sofrimento, mas ele é quase inevitável quando ocorre o divórcio. O desafio colocado é o de como entender as suas causas e investir em comportamentos preventivos.
Antes de continuar falando a respeito, relacionando essas causas à pergunta do final do primeiro artigo (como ficam os relacionamentos entre os ex-cônjuges e parentes depois do divórcio?), queremos apresentar os porquês de nossa referência a casamento não ser apenas às uniões firmadas por algum tipo de documento. A maior parte dos casais que atendemos ou dos casos que conhecemos não esta nessa condição, ou seja, desfrutam ou viveram a vida conjugal sem ter havido uma formalização prévia.
Daí entendermos que ao utilizar nestes artigos as palavras conjugalidade, união conjugal e seus sinônimos, estamos dando um entendimento mais abrangente do que o termo casamento. Já é de longa data que esses tipos de conjugalidades vem se tornando uma prática comum, reforçada pela pós-modernidade e vice-versa. O leitor já deve ter se ligado que esse contexto é um pouco diferente daquele do estudo da Drª Wallerstein com as sessenta famílias desfeitas nas décadas de 1970 e 1980, que um dia tinham se unido civil e religiosamente. Hoje, com uniões documentadas ou não, os sofrimentos inerentes ao divórcio atingem uma rede mais abrangente de relacionamentos.
Casais de namorados vivendo como cônjuges
É cada vez maior o número de pessoas que resolvem viver uma primeira experiência conjugal sem oficializa-la por documentos. Como pode ser percebido facilmente por quem estuda o assunto, a maioria desses namorados/cônjuges é jovem e entra nesse tipo de relacionamento contando tanto com a autorização dos pais, como com a facilitação incentivadora, ou até mesmo com a indiferença deles. Grande parte vai morar com os sogros ou os pais na mesma casa ou terreno, e há os que alternam a convivência em mais de uma residência, entre outros arranjos. A presença de crianças em gestação ou já nascidas dentro dessas estruturas contribui para ratificar a união, mesmo que o casal seja adolescente. Para reforçar ainda mais a importância de olharmos com carinho para esses tipos de casamentos, ainda que muitos desses jovens casais também não se vejam como casados, vale lembrar que o Código Civil os reconhece como “uniões estáveis”.
Esse modelo de união conjugal, o morar junto e/ou “namoro” (quando há sexo regularmente, ou seja, um/a parceiro/a sexualmente estável), se tornou tão comum que gerou a prática também crescente do casamento coletivo civil ou religioso. Quando esses pares procuram a terapia de casal (falaremos sobre esse novo e crescente fenômeno em outro momento), quase sempre as motivações são conflitos e confusões ligados às dificuldades de assumirem as responsabilidades da conjugalidade oficial. Portanto, ao considerar esses “namorados” casados estamos apenas reconhecendo que já vivem nessa condição. Eles já experienciam a intimidade sexual, uma das quatro intimidades inerentes ao casamento, mesmo que isso ocorra sem o necessário preparo emocional e material/financeiro. Há várias causas do aumento desse tipo de uniões conjugais entre jovens e adolescentes. Dentre aquelas consideradas como as mais graves, pontuaremos especificamente algumas relacionadas às mudanças nos estilos parentais, que é a forma e a qualidade do relacionamento com os filhos (GOMIDE, 2006).
O casamento entre os filhos das famílias modernas
As mudanças nos estilos parentais das chamadas famílias modernas, contribuem para aumentar o número de casamentos não oficiais por razões inerentes à sua própria estrutura. Isso porque, sem disciplina e limites claros para o namoro, os filhos entrarão na vida conjugal quando quiserem, e não quando estiverem preparados. Claro que alguns pais permitem essa condição conscientemente e, nesta situação, devemos respeitar tais escolhas. Por outro lado, muitos outros pais são levados a acreditar que devem aprovar ou dar condições para que os filhos sejam sexualmente ativos fora do casamento oficial. Na verdade essa prática é, paradoxalmente, conduzi-los para dentro de um tipo de casamento, de uma conjugalidade com quase todos os direitos, mas sem os necessários deveres que gerariam maturidade. Temos visto a dificuldade desses pais em compreenderem e lidarem com esse contexto, pois também são vítimas da pressão exercida pela mídia. Foram convencidos de que estão cuidando e protegendo os filhos ao agirem assim.
Porém, aprovar comportamentos como esse tem o mesmo princípio falacioso de se autorizar o uso de drogas (lícitas ou não) dentro de casa, acreditando que isso livrará os filhos das consequencias da dependência química caso estivesse fora de casa. Um outro discurso bastante utilizado é o de que não adianta proibir porque os filhos farão assim mesmo. Mas, esta justificativa pode estar ligada com inadequações nas dinâmicas e fronteiras relacionais da família, que nesse caso precisa de ajuda. Uma convivência familiar emocionalmente mais saudável ocorre pelo resgate da autoridade parental através do amor incondicional aos filhos. Isso significa corrigir o comportamento inadequado sem deixar de provar que ama, tornando-os mais sensíveis e compreensivos às proibições sobre tudo para o qual não podem assumir as consequencias de seus atos.
Os pais que não querem ou não conseguem agir assim, transferem para si os ônus dos comportamentos de risco dos filhos, adiando ou quase sempre impedindo o desenvolvimento cognitivo, emocional e espiritual deles. Filhos amados incondicionalmente e educados para assumir todas as suas responsabilidades e suportar frustrações, com pais presentes e exemplares, se esforçarão para viver os ideais de uma conjugalidade saudável. E isso se repetirá em outras áreas de suas vidas. Não estamos falando em ausência de crises na relação parental, mas no privilégio que todos podem ter, sendo religiosos ou não, de experimentar a superação de todas elas e apropriar-se de tudo o que o Criador projetou para o casamento e para a família.
Refletindo sobre modelos de casamento
Aprendemos e ensinamos que casamento só é válido quando presidido por alguma autoridade civil e/ou religiosa e documentado. O documentar é uma prática recente, mas diferentes celebrações envolvendo as famílias dos noivos e sua comunidade sempre ocorreram na história. Elas representam para a maioria das culturas algum tipo de contrato moral ou ético. Essa tradição é tão forte que certamente o leitor conhece casos de pessoas que, mesmo vivendo juntas há anos ou décadas e já tendo filhos, querem “se casar”. Em 2009, por exemplo, muitos desses casais brasileiros se realizaram e passaram a fazer parte dos números divulgados pelo IBGE sobre casamentos oficiais: 935.116 (contra 177.604 divórcios). Também há aqueles que se contentam apenas com uma cerimônia religiosa, prática comum quando a união é desfeita e o casal troca de religião. Inclusive, há instituições que estimulam recasamentos com a expectativa de que os novos membros se tornem efetivos e colaboradores de seus projetos.
Com todo respeito àqueles que acreditam ser as celebrações civis ou religiosas a garantia de vínculo duradouro ou até de felicidade, o contexto atual mostra que a maioria delas não consegue cumprir esses objetivos, independentemente de quem tenha sido o celebrante. Quando se perde ou se ignora os princípios relacionados ao amor incondicional e à fidelidade conjugal, projetados amorosamente pelo Criador para o casal e a família (Mt. 19,8), virão complicadas crises geradoras de sofrimentos que poderiam ter sido evitadas. Portanto, é preciso refletir com seriedade e urgência sobre as vantagens de se conhecer e viver de modo adequado ao modelo original de casamento dentro da vontade de Deus. É apenas nela que os relacionamentos conjugais se completam.
Todo casal quer permanecer casado
Cônjuge, conjugar, conjugado e seus sinônimos tem o significado de ligação, de juntar, de andar junto. Houve um tempo em que se falava sobre casamento utilizando-se da ilustração da junta de bois puxando um carro ou arado, apontando para a ideia de semeadura e de investimentos espirituais e emocionais mútuos. Mesmo que seja com outros exemplos, esse é o princípio que une a maioria absoluta dos casais. Dificilmente alguém se entrega intimamente ao outro de corpo e alma sem ter a pretensão de um relacionamento duradouro, seja essa entrega através de um “namoro” ou casamento, documentado ou não. Esse processo envolve confiar segredos pessoais e familiares, temores, esperanças, sonhos, sempre com a expectativa de que o(a) parceiro(a) continue sendo alguém para somar esforços na caminhada. Para tornar tudo isso mais forte e significativo, o casal costuma buscar formas de envolver os familiares e parentes nessas alianças. Acreditam que encontrarão a felicidade na outra pessoa, confiando em tudo o que ela é e tem. Na medida que o tempo passa, as entregas mútuas nas áreas afetiva e material vão sendo cada vez maiores, chegando a ponto de se ligarem para toda vida quando geram filhos, pois estes carregarão em si muitas características de ambos.
Em qualquer um dos momentos a partir do início da conjugalidade, a opção pelo divórcio, normalmente unilateral, vai começar a quebrar essas e outras construções feitas pelo casal durante a convivência. Nesse difícil momento vivido pela parte abandonada e/ou traída, uma das coisas que fará grande diferença é encontrar um(a) amigo(a) na família ou na parentela. Nas longas horas que se seguirão, o que menos importa é se a união conjugal era oficial ou não…
O divorcio é uma situação HORRIVEL, vivenciada pelas partes envolvidas.Passei por um divorcio a um ano e tres meses atras,e digo é muito dificil.Fui abandonada pelo meu esposo com um filho de 03 anos e um bebe de 26 dias de nascida.O mais doloroso foi a reação do meu filho que é apegado demais ao pai e até hoje sonha com o retorno do mesmo pra casa,mesmo eu dizendo que isso possa não acontecer.
Creio que o Senhor irar restaurar minhas forcas a cada dia para o sustento dos meus filhos.
A paz em Cristo!!