A pregação do evangelho
Uma das passagens mais intrigantes dos evangelhos é Marcos 16.15-20. Alguns teólogos, por não conseguirem explicá-la, alegam que não consta nos principais manuscritos da Bíblia (o que é uma grande mentira):
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão. Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram.” (ênfases acrescentadas)
Este trecho fala que Deus confirma com sinais e maravilhas a pregação do evangelho. No modelo bíblico, a pregação e os milagres andam sempre juntos. É como se Deus dissesse ao ouvinte: “Pode acreditar em tudo o que meu servo está lhe dizendo em meu nome!”. E por que isto não acontece em nossos dias?
Em artigo anterior (“Quando o ensino é prejudicial” – edição nº 70), tomando como analogia o comportamento da águia, eu disse que o desejo de voar está impresso no DNA de todo ser humano. E a sede pelo sobrenatural também está no DNA de todo cristão – não podemos jamais sufocar este desejo. A vida vai muito além do que percebemos com os sentidos naturais. A falta de conexão com o Reino de Deus nos angustia. O homem possui um espírito justamente por este motivo – comunicar-se com o mundo espiritual.
Nada satisfaz mais o coração do cristão do que ver as assim chamadas “impossibilidades” dobrarem seus joelhos ao nome de Jesus. Qualquer coisa menor do que isso é anormal e insatisfatória. Para sermos cristãos eficazes, precisamos ir muito além da vida cristã que conhecemos. Precisamos redefinir o cristianismo “normal” para que este se alinhe com a ideia de Deus do que é normal, e não com a definição que aceitamos e com a qual nos acostumamos. Nossa teologia deve ser baseada na Palavra de Deus e não em nossas experiências (ou na falta delas). Talvez pelo fato de a fé católica estar baseada nos milagres dos santos, os evangélicos precisaram criar uma teologia que sufocasse esta crença, alegando que os milagres não são mais necessários em nossos dias. Afinal, já temos a Bíblia!
Como médico veterinário, consigo perceber a alegria de viver que tem todo vira-lata de rua. Mas quando capturado, este mesmo cão fica com um olhar envergonhado e de humilhação no canil da prefeitura. Conosco acontece exatamente o mesmo – nascemos para a liberdade e não para viver nos canis das religiões, esperando que alguém nos adote e domestique. Para a liberdade fomos chamados, e não para viver dentro das quatro paredes da religião. Podemos até nos moldar ao simbolismo e aos discursos infindáveis e sem vida, mas não foi isto que Deus preparou para seus filhos.
Certo vendedor ambulante de aspirador de pó apresentava seu produto da seguinte forma: “Este aspirador é muito poderoso. Quando usá-lo, devemos ter o cuidado de tirar do ambiente todas as crianças e animais domésticos, pois ele suga tudo o que vê pela frente!” A dona de casa ficou interessada e pediu uma demonstração. O comerciante, sem nenhum constrangimento, alegou que não poderia demonstrar o poder do aparelho. Ela deveria simplesmente acreditar nele, comprar o aspirador e ler as instruções no manual para fazê-lo funcionar. Este é ou não é o evangelho que pregamos? Falamos do poder de Deus, mas não temos condições de demonstrá-lo.
A vontade de Deus
Tenho quase certeza de que quando Jesus ensinava aos discípulos sobre como orar (Mt 6.9-10), quando disse “venha teu reino, seja feita tua vontade…”, Pedro o interrompeu com a pergunta: “Mestre, mas como achar a vontade de Deus?” Todo cristão acredita fazer a vontade de Deus, mas esta não é uma pergunta fácil de responder.
Jesus, com sua simplicidade característica, respondeu: “Assim na terra como nos céus”. Ou seja, saber qual é a vontade de Deus é muito simples. Tudo o que faz parte dos céus deve fazer parte da terra; o que não é permitido nos céus também não deve ser permitido na terra. O que Deus mais deseja é que a realidade dos céus invada este mundo destruído pela rebeldia, transformando-o, trazendo-o sob sua autoridade. Isto é ao mesmo tempo básico e revigorante.
Tudo o que tem liberdade de ação nos céus (alegria, paz, saúde, sabedoria e todas as boas promessas que lemos na Bíblia) deveria ser livre para operar aqui neste planeta, em nossas casas, na igreja, em nossos negócios, nas escolas. O que não tem liberdade de ação lá (pecado, tristeza, doenças, enfermidades, escravidão espiritual) não deveria estar livre para agir aqui.
Trazer a vontade de Deus para esta Terra e destruir as obras do diabo (1 Jo 3.8) é a missão de cada crente. Isso não é teologia – é um modo fantástico de viver. Quando esta é a nossa realidade, as coisas que nos incomodam parecem que se acertam por si mesmas: vidas são libertas, corpos são fortalecidos e curados, a escuridão se afasta da mente das pessoas, o domínio do inimigo é quebrado, os negócios tornam-se saudáveis, os relacionamentos são restaurados, as igrejas crescem e as cidades sentem os efeitos de terem o Reino de Deus florescendo nelas. Este não é um tipo de vida inventado; é o tipo de vida para o qual fomos feitos.
Uma das passagens mais conhecidas das Escrituras é quando Jesus dormia no barco, em plena tempestade. Os discípulos estavam desesperados e acordaram Jesus, perguntando se ele não se importava com a tormenta. Jesus os repreendeu e acalmou a tempestade. Aprendemos com esta história que, mesmo passando por tempestades na vida, na hora H, Jesus acalma a tempestade. Não devemos nos desesperar, pois no momento certo Jesus assume o comando e muda o quadro. Contudo, não foi este ensinamento que Jesus quis dar ao repreender os discípulos. Para Jesus os discípulos tinham poder suficiente para repreender a tormenta. Ele só agiu porque eles não estavam fazendo nada. Hoje também acontece isso conosco – deixamos uma situação chegar ao limite máximo sem a menor necessidade, aguardando o agir de Deus quando já não suportamos mais.
Certo dia, percebi uma opressão muito forte, como uma nuvem negra do diabo para atacar alguns jovens da igreja. Junto com a Val, minha esposa, oramos e fomos dormir. Quando já eram 2 da manhã, acordei com a sensação de que estávamos orando de forma errada, acuados pelo diabo. Segundo Mateus 16.18, a igreja é quem ataca, e o inferno quem tenta se defender. Hoje tentamos nos proteger a qualquer custo dos ataques do maligno. Oramos do jeito certo, e toda maldade foi desfeita em nome de Jesus. Um pouco mais de ousadia só nos fará bem.
A renovação de nossas mentes
A pregação do evangelho deve sempre ser associada à manifestação do poder de Deus. Os milagres e a vida sobrenatural oferecem uma prova imediata e irrefutável do que Deus deseja que aconteça na Terra.
As pessoas entendem melhor sobre Deus quando mostramos a sua realidade. Não devemos crer nas coisas certas acerca de Deus, mas ser pessoas que colocam a vontade de Deus à vista, expressando-a e fazendo com que os demais compreendam quem de fato Deus é – curas, libertação e restauração fazem muito mais do que resolver um problema imediato; elas dão às pessoas uma demonstração concreta de quem Deus é. Quem contestará diante de uma manifestação sobrenatural?
“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação de vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2 – ênfase acrescentada).
Quando fazemos a vontade de Deus, trazemos a realidade do Reino para destruir os trabalhos do diabo. Iniciamos um conflito entre a realidade terrena e a celestial e nos tornamos a ponte e o ponto de conexão que possibilitam, através da oração e da obediência radical, declararmos o domínio de Deus.
Não estamos cansados de ouvir falar de um evangelho de poder mas nunca vê-lo em ação? Não estamos cansados de tentar a Grande Comissão sem oferecermos provas de que o Reino funciona? Dizemos às pessoas quão fantástico nosso produto é, mas raramente o demonstramos ou o provamos. Representamos um rei que cura todas as doenças, livra a pessoa dos tormentos e das dificuldades da vida. No entanto, não temos como provar isso. A pessoa apenas vai ter que acreditar.
Estava num encontro com mais de 150 cristãos buscando conhecer a Deus e sua vontade. Uma pessoa passou mal e foi levada imediatamente ao posto de saúde para ser medicada. No dia seguinte, outra pessoa também passou mal, sendo que agradecemos a Jesus por levar todas as nossas enfermidades sobre si. Repreendemos a dor de cabeça, e a saúde da irmã foi restabelecida na mesma hora. A que grupo você pertence? Muitos alegam que não têm o dom de operar milagres nem o de curar uma simples tontura, quanto mais um câncer ou AIDS. Então eu pergunto: alguma vez você já orou e repreendeu a AIDS em alguma pessoa? Se nunca fez isso, como pode saber se tem esta capacidade ou não? Para mim curar alguém é a coisa mais fácil do mundo. Isso porque não sou eu nem você quem cura – é Deus! Se dependesse de mim, até para espirro seria dificílimo, mas para Deus tudo é possível.
O único jeito de fazer a vontade de Deus é renovando nossas mentes, pensando de modo diferente. Temos que ver as coisas pela perspectiva de Deus. Já disseram muitas vezes que a batalha está na mente, e é a mais pura verdade. Deus fez nossa mente para ser a guardiã do sobrenatural. Uma mente renovada reflete a realidade do outro mundo da mesma forma que Jesus resplandeceu com o brilho do céu. A renovação da mente não muda apenas nossos pensamentos, mas também sua origem, que passa a ser uma realidade diferente – dos céus em direção à terra! É por esse motivo que o diabo ataca a nossa mente, tentando inutilizá-la.
O aspecto intelectual da mente é muito importante, mas foi tão exacerbado que eliminou o verdadeiro estilo de vida de fé. A fé sincera é bombardeada por um modo de pensar de dúvidas e ceticismo. A teologia e a avaliação acadêmica substituíram a experiência sobrenatural por uma fé religiosa. A Bíblia menciona que a fé vem pelo ouvir a palavra de Deus. Naquela época o povo ouvia a palavra do mesmo jeito que se ouve hoje? Claro que não. O mesmo apóstolo Paulo que disse isso em Romanos disse também aos Coríntios que sua pregação do evangelho consistia na manifestação do poder de Deus. A pregação acadêmica, baseada na hermenêutica e homilética, não produz fé alguma. Muitas vezes, durante um sermão, eu me pergunto: onde este irmão quer chegar com este discurso vazio? Deus, tenha misericórdia de nós!
A mente é de fundamental importância para nosso caminhar com Cristo, e por isso Paulo nos admoesta a “sermos transformados pela renovação de nossas mentes”. A mente não renovada tem pouco uso para Deus. Como uma nota discordante do piano, não deve ser tocada para não depreciar a música.
Pessoas que não estão em sintonia com a mente de Cristo raramente são usadas, não importando o quão disponíveis estejam. São autonomeadas em sua missão e estão trabalhando totalmente fora da comissão planejada por Deus. Não é pela inteligência, mas pela sintonia que temos com a mente de Cristo.
Deus destinou nossa mente para ser uma das mais poderosas e sobrenaturais ferramentas do universo, mas ela precisa ser santificada e entregue ao Espírito Santo para que possamos realizar seus desígnios, suas ideias criativas e planos em nossa vida diária.
Mas como renovar nossa mente?
“Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4.17).
A renovação da mente tem início com o arrependimento. Arrepender-se significa deixar nosso ponto de vista e voltar-se para a perspectiva que Deus tem da realidade. Nesta perspectiva existe um renovo, uma reforma que afeta nosso intelecto, nossas emoções e todas as partes de nossas vidas. Sem arrependimento, permanecemos em nossa maneira carnal de pensar.
A maioria dos cristãos não tem nenhuma atração pelo pecado. Mas pelo fato de viverem sem a manifestação do poder do evangelho, andar apenas pela ótica natural, perdem o sentido de propósito e voltam-se para o pecado. Muitas pessoas cometem o erro e dizem não saber por que fizeram isso – mas é verdade, não nascemos para viver no pecado. Isto não nos faz bem.
Ter uma mente renovada não se trata de ir ou não para o céu na eternidade, mas de quanto do céu desejamos para nossa vida neste momento. Nossa alma almeja por ver estas coisas. Temos dentro de nós um desejo inesgotável de ver o Reino irromper para dentro desta esfera – não apenas olhar, mas participar, nos tornar o ponto de conexão, o caminho para a manifestação do poder de Deus. Aleluia! Pois é a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento (Rm 2.4).
Jesus, por si mesmo, não tinha habilidade nenhuma para curar enfermos, expulsar demônios ou ressuscitar os mortos (Jo 5.19). Não fez milagres porque era Deus, pois havia colocado sua divindade de lado. Fez milagres como homem em correto relacionamento com Deus porque estava demonstrando um modelo para nós, um caminho a ser seguido. Esta é a natureza do nosso chamamento – requer muito mais do que somos capazes de fazer. Quando fazemos apenas aquilo de que somos capazes, não estamos envolvidos no chamado.
Jesus vivia em constante conflito interior, pois a lógica do Reino de Deus vai contra a lógica da carne. E esta é uma boa oportunidade para nos perguntar: também estamos vivendo em conflito com este mundo? Trazemos a realidade ou a doutrina dos céus para nossos vizinhos e amigos, ou apenas um discurso vazio? Está na hora de entrarmos na dimensão da mente renovada, para experimentarmos a completa expressão da vontade de Deus na terra.
Uma mente renovada faz com que o Reino de Deus seja manifestado “assim na terra como nos céus”. Esta é a vida cristã normal.
Este artigo foi quase 100% retirado do livro “O poder sobrenatural de uma mente transformada”, de Bill Johnson. Recomendo também:“Quando o céu invade a Terra” e “Face a face com Deus”, do mesmo autor.
Que sonho é viver essas palavras Ezequiel. Que o Senhor tenha misericórdia, da nossa hipocrisia, religiosidade, mediocridade e nos conduza ao verdadeiro arrependimento! Com certeza os sinais hoje escassos e desacreditados na igreja, voltaram a acompanhar aqueles que perderam a vida nessa terra, afim de ganhar a verdadeira vida no céu!
Firminópois, Go, 02 de janeiro de 2012
Palavras maravilhosas! inspiradas pelo Espírito
Santo de Deus. Tenho vivido uma pequena partícula do que foi mencionado, mas,quero presenciar mais a glória de Deus.