No capítulo 2 do livro de Atos, entre os versículos 17 e 21, o apóstolo Pedro faz menção da profecia de Joel para explicar à multidão reunida em Jerusalém o que estava acontecendo:
“(…) está acontecendo aquilo que o profeta Joel anunciou: ‘Nos últimos dias, diz o Senhor, eu derramarei o meu Espírito sobre todas as pessoas. Os filhos e filhas de vocês vão profetizar, os jovens terão visões e os anciãos terão sonhos. E, naqueles dias, derramarei o meu Espírito também sobre meus servos e servas, e eles profetizarão. Farei prodígios no alto do céu, e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e nuvens de fumaça. O sol se transformará em trevas, e a lua em sangue, antes que chegue o dia do Senhor, dia grande e glorioso. E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’.”
Analisando o texto acima com mais cuidado, podemos notar a descrição da atuação do Espírito Santo sobre as famílias não como um fenômeno inaugural, mas como o cumprimento de um período denominado de “Últimos Dias”, que teve início em Atos e deverá se estender até a volta de Cristo. Essa manifestação se repetiu toda vez que houve um novo início do que se chama igreja. Como exemplos podemos citar os ocorridos em Samaria (At 8.4-8,14-17) e na casa de Cornélio (At 10.44-46), que datam do primeiro século da igreja nascente, além de inúmeros outros ao longo da história, em vários lugares, mesmo não coincidindo com o aniversário de Pentecostes.
Muitas outras profecias poderiam ser usadas para explicar o fenômeno de Atos 2, mas o Espírito Santo elegeu a de Joel porque ela descreve a família. Foi para cumprir a promessa feita a Abraão de abençoar todas as famílias da terra (Gn 12.3) que o Espírito Santo começou a ser derramado sobre elas e, assim, mudar definitivamente o seu estilo de vida.
Ninguém pode ser pai sem antes ser filho: adotados para adotar
Uma família tem início com a paternidade. A preparação se dá quando o homem deixa seu pai e sua mãe e se une a sua mulher para se constituírem em uma só carne. Ninguém maltrata a sua própria carne. Assim, a primeira função do marido é a de cuidar de sua própria esposa com amor e com isso conquistar sua submissão. Estão equivocados aqueles que pensam que o simples fato de pertencerem ao gênero masculino já lhes dá as prerrogativas de autoridade. “Eu sou homem, eu mando!”, imaginam. Se fosse assim, Jesus teria dito: “Eu sou Deus, eu mando!”, mas não foi de tal forma que ele procedeu para conquistar sua autoridade e delegá-la aos homens. Antes, ele se humilhou, assumindo a forma de servo entre os homens e conquistou o maior nome entre todos (Fl 2.6-11). Portanto a autoridade não é medida pelo gênero a que alguém pertence, mas pela forma como ama e serve.
Quando conhecemos Cristo e experimentamos e aceitamos o seu evangelho, recebemos de Deus o espírito de adoção, ou seja, somos adotados por Deus e passamos a pertencer a sua família. Este espírito de adoção que recebemos implica que além de termos sidos adotados, também estamos dispostos a adotar. Portanto fomos adotados para adotar (Rm 8.14-16,29; Gl 4.5-7). Nesse caso, não se concebe a ação parcial de apenas sermos adotados, pois só quando também adotamos é que nossa adoção se torna efetiva e válida.
Por outro lado, ninguém pode ser pai sem antes ser filho. Precisamos experimentar a paternidade divina para exercermos a paternidade segundo esse modelo. Em outras palavras, a paternidade que exercemos não é nossa, mas de Deus. À semelhança de José, o esposo de Maria, não criamos filhos para nós, mas para Deus. Pensar o contrário é uma arrogância e usurpação.
Nesse sentido é que precisamos saber de Deus o que ele deseja de cada um de seus filhos que foram colocados sob nossos cuidados para podermos conduzi-los à vocação para a qual foram chamados. Antes de pensar se eles serão futuros médicos, engenheiros, advogados ou professores, precisamos considerar se serão apóstolos, profetas, mestres, doutores ou evangelistas para então cumprirem seu ministério como médicos, engenheiros, advogados ou professores.
O Dia do Senhor precedido da conversão dos pais aos filhos e dos filhos aos pais
Quando Deus, em Gênesis 1.26,28, listou as coisas sobre as quais o homem deveria dominar, não incluiu nessa relação o próprio homem. Portanto o domínio do homem sobre o homem é totalmente ilegítimo. Um homem só pode exercer autoridade sobre outro se esta lhe for delegada por Deus e desde que atenda não a interesses próprios, mas aos de Deus. Além disso, Jesus deixou explícito que esta autoridade se conquista pelo serviço (Mt 20.25-28). Ou seja, é servindo com amor que se conquista a autoridade. Logo, não há que se confundir a autoridade espiritual com o autoritarismo humano e diabólico. Ambos são distintos, como água e óleo.
Precisamos considerar tudo isso para podermos exercer a paternidade segundo o que Deus espera de nós, lembrando que, como numa família natural, em que o pai não escolhe os filhos, nós também não podemos escolher aqueles de quem queremos cuidar em detrimento de outros rejeitados. Jesus afirmou: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37). Hoje Jesus conta conosco para receber aqueles a quem o Pai envia e espera que, através de nós, Ele possa acolher a todos, sem rejeitar um sequer.
Dentro do período dos “Últimos Dias” que estamos vivendo, há um dia em especial que se distingue e para o qual todos os demais apontam. Trata-se “daquele dia” do retorno de Cristo, sobre o qual nos relata Malaquias 4.1-6:
“Vejam! O Dia está para chegar, ardente como forno. Então os soberbos e todos os que cometem injustiça serão como palha. Quando chegar o Dia, eles serão incendiados – diz Javé dos exércitos. E deles não vão sobrar nem raízes nem ramos. Mas para vocês que temem a Javé brilhará o sol da justiça, que cura com seus raios. E vocês todos poderão sair pulando livres, como saem os bezerros do curral. Vocês pisarão os maus como poeira debaixo da sola de seus pés, no Dia que eu estou preparando – diz Javé dos exércitos.
Lembrem-se da Lei do meu servo Moisés, que eu mesmo lhe dei no monte Horeb, estatutos e normas para todo o Israel. Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível Dia de Javé. Ele há de fazer que o coração dos pais voltem para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total.(ênfases acrescentadas).
Antes de sua chegada, haverá a presença de um ministério profético, que foi representado pelo ministério de Elias e também exercido pelo profeta João Batista, o qual consistirá na missão de converter o coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais. Converter significa fazer uma curva de 180°, realizando um caminho de volta. Isso significa que pais e filhos estão em caminhos opostos, um andando de costas para o outro. Caberá ao pai a iniciativa de mudar esta situação. As gerações precisam ser reconectadas para assim se extinguir o conflito entre elas. Portanto há a necessidade de se restaurar o espírito de paternidade nas pessoas, segundo o conceito de Deus.
A identidade e a missão dos filhos estão em Cristo
Está correto quem afirma que “filho é projeto sem arrependimento”. Uma vez gerado, não há como voltar atrás, mas o verdadeiro pai não é aquele que simplesmente gerou, como se fosse apenas um reprodutor ao modelo dos animais, mas sim aquele que cuidou.
Desconhecemos a genealogia do profeta Elias, que viveu no período dos reis em Israel. Não sabemos quem foram seus pais. Mas conhecemos muito bem os pais daquele que exerceu o ministério precursor à chegada de Jesus. Trata-se do casal já avançado em idade, moradores das montanhas da Judeia, Zacarias e Isabel. Ele, sacerdote, portanto um levita, e Isabel, tida como estéril. Possivelmente, por muitas vezes, consideraram ter um filho, um homem que continuasse o ofício sacerdotal do levita Zacarias. Contudo, depois de já estarem conformados com a situação de serem um casal sem filhos, Deus envia um anjo a Zacarias durante o exercício de seu ofício para anunciar-lhe que Isabel geraria. Entretanto o anjo deixa claro que tal filho pertenceria ao Senhor e viria com uma missão específica. A começar pelo nome que seria diferente do nome do pai e de toda a sua parentela. Em vez de Zacarias, como seria normal ao primeiro filho, seria chamado de João e em vez do ofício sacerdotal, seria um profeta, e seu templo seria o próprio deserto (Lc 1.8-25; 57-80).
Por se tratar de um casal avançado em idade, não tiveram outros filhos, mas isso não impediu Zacarias de dar curso ao ministério de João, sem esperar que de alguma forma João pudesse também ser um sacerdote. Não encaminhar João para o sacerdócio era, sem dúvida, algo que iria no sentido contrário das expectativas do clero naqueles dias.
Zacarias compreendia que a vocação de João Batista estava na perspectiva de Jesus, pois quando responde à indagação de quem seria aquele menino, primeiramente faz menção ao Messias e atrela ao ministério deste a vocação de João Batista. Esta é uma condição básica para o exercício da paternidade, ou seja, compreender que a vocação do filho está no contexto de Cristo. Em outras palavras, só em Cristo podemos conhecer nossa verdadeira identidade, ouvir nosso chamado e cumprir nossa missão. Qualquer identidade fora de Cristo é falsa, bem como qualquer missão. Por mais nobres que pareçam, fora de Cristo não têm qualquer sentido.
Zacarias foi incumbido de formar o maior dos profetas (Lc 7.26-28). Devemos reconhecer que se trata de uma missão extremamente importante, embora não tenha conferido tanta notoriedade a Zacarias. Aliás, ser discreto era uma característica necessária, afinal era o filho e não ele quem seria o profeta.
À medida que nos aproximamos “daquele dia”, também somos chamados a exercer nossa paternidade, à semelhança de Zacarias e Isabel, José e Maria. Uma paternidade que proveja um povo habilitado, forte e sábio para o Senhor (Lc l.1-17; Dn 11.32-33). Um povo no qual o menor será maior que João Batista, o maior de todos os profetas.
Curti e compartilhei! rs Bom Dia amados.
Izabel Gonçalves Santos liked this on Facebook.
Naty Fonseca Bento liked this on Facebook.
Jacqueline de Nedson liked this on Facebook.
GrupoNews liked this on Facebook.
Clarice Oliveira liked this on Facebook.